29/10/20

Por que devemos prestar atenção às eleições dos EUA?

O democrata Joe Biden e o republicano Donald Trump são os principais concorrentes ao cargo de presidente dos Estados Unidos (Foto: BBC)

Estamos às vésperas das eleições presidenciais estadunidenses. Cada declaração de um presidenciável, ou de seu vice, tem potencial para estampar uma capa de jornal ou manchete de noticiário. Mas será que nós, brasileiros, deveríamos prestar tanta atenção às eleições dos Estados Unidos (EUA)? Gustavo Guerreiro, doutor em Políticas Públicas e pesquisador do Observatório das Nacionalidades da Universidade Estadual do Ceará (UECE), acredita que sim: “A eleição nos Estados Unidos é importante em âmbito mundial, porque, afinal de contas, eles ainda são a maior potência econômica, militar e política de toda história”.

Gustavo Guerreiro: "As eleições estadunidenses podem interferir diretamente no bolso do cidadão comum" (Foto: Arquivo Pessoal)

Gustavo Guerreiro: "As eleições estadunidenses podem interferir diretamente no bolso do cidadão comum" (Foto: Arquivo Pessoal)

Para o pesquisador, é fundamental que o brasileiro fique atento aos desdobramentos desse processo eleitoral. Segundo Gustavo, independente de quem vença, seja o democrata Joe Biden ou o republicano Donald Trump, as implicações econômicas afetam diretamente o bolso das pessoas no Brasil: “O que pode acontecer com a saída do presidente Trump, é o maior isolamento do Brasil no âmbito internacional. E isso vai ter consequências desastrosas na vida do cidadão comum”. Ele completa: “Isso pode ter implicações no preço dos alimentos, a questão da balança comercial, ou da política cambial, ou de valorização do dólar. Isso tudo tem refletido no aumento do preço do arroz, do feijão, da carne”.

E a economia pode não ser o único elemento afetado com uma possível troca de governo. Os alinhamentos ideológicos do presidente brasileiro Jair Bolsonaro, conservador, e do candidato à presidência dos EUA Joe Biden, de tom mais progressista, não estão em consenso. Foi a análise que fez o estudante de Direito e membro do Grupo Ágora (Grupo de Estudos em Direito Eleitoral e Ciência Política) da Universidade Federal do Ceará, Loyhan Ferreira Torres. Segundo ele, essa falta de consonância entre ambos pode acarretar danos à política internacional no que diz respeito a possíveis acordos comerciais, seja de forma prática ou mesmo abstrata. Esses acordos muitas vezes acontecem em concordância com o posicionamento ideológico dos chefes de Estado. Por isso, negociações entre presidentes com ideologias diferentes podem causar estranhamento nas suas bases de apoio populares.

A posição do governo brasileiro, alinhada ao atual presidente Trump, foi demonstrada em diversas falas de Bolsonaro como, por exemplo, o reforço ao uso de cloroquina como tratamento da Covid-19, mesmo sem comprovação científica. Mais recentemente, Jair Bolsonaro declarou torcida pela reeleição de Trump.

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Monalisa Soares Lopes: "Falta clareza na mediação da  imprensa" (Foto: Arquivo Pessoal)

Monalisa Soares Lopes, professora do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal do Ceará, acredita que o governo brasileiro talvez precise rever esse posicionamento. Para a docente, o apoio não colocaria, necessariamente, o Brasil em posição de marginalidade. Porém, dado o nosso histórico de neutralidade, talvez seja preciso um reposicionamento diplomático caso Joe Biden vença, uma vez que o candidato já fez críticas ao governo brasileiro, embora não tenha citado o presidente Jair Bolsonaro diretamente.

Com tantos fatores apontando a importância dessas eleições para nosso país, a atenção da imprensa se justifica. Mas será que ela fala ao espectador todas essas implicações? Monalisa destaca que a imprensa brasileira costuma focar em comentários que os governantes brasileiro e americano fazem um em relação ao outro, e esquece de evidenciar os impactos no contexto das relações internacionais. A professora comenta: “Do ponto de vista da cobertura, eu penso que ainda falta um pouco fazer essa mediação. Ainda não percebo com muita clareza os fatos e o que, de fato, impacta diretamente na vida e no cotidiano das pessoas.” Na visão dela, “falta, do ponto de vista da imprensa e da mídia em geral, uma mediação mais clara sobre essa cobertura”.

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Loyhan Ferreira: "De modo geral, os noticiários têm feito um bom trabalho" (Foto: Arquivo Pessoal)

Para Gustavo Guerreiro, isso não é por acaso. Ele acredita que a imprensa não trata a eleição dos Estados Unidos de maneira mais aprofundada, “porque a grande mídia é, de certa forma, corporativa. São bancos, grandes empresas, capital internacional”. O pesquisador ainda aponta que “esse debate mais profundo sobre a eleição nos Estados Unidos e suas implicações para a realidade brasileira contraria interesses, inclusive, de patrocinadores”.

Loyhan Ferreira, por sua vez, acredita no bom trabalho da mídia, embora, para ele, haja pontos que precisam ser revistos, como, “por exemplo, trazer de forma mais direta qual é o impacto dessas eleições no bolso do brasileiro, que isso é algo muito importante, que muitas vezes as pessoas não entendem nem como funciona o sistema eleitoral”. Entre os pontos positivos ele destaca as questões de Direitos Humanos, frequentemente citadas e importantes de serem avaliadas.

As eleições estadunidenses acontecem no próximo dia 03 de novembro. Joe Biden e Donald Trump, embora sejam os principais candidatos do pleito, não são os únicos. Concorrem também à presidência outros 9 adversários. Dentre eles está o rapper Kanye West, que terá seu nome impresso nas cédulas de 11 Estados.

Reportagem de Gambit Cavalcante com orientação de Raquel Dantas, Igor Viera e Carolina Areal

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