13/11/18

O cinema passa por uma crise de criatividade?

Lady Gaga e Bradley Cooper em cena de Nasce Uma Estrela (Foto: Reprodução/Internet)

No mês passado, um dos filmes mais aguardados de 2018 chegou aos cinemas do Brasil. O musical Nasce Uma Estrela veio cheio de ambição, a estreia de Bradley Cooper como diretor e da cantora Lady Gaga como atriz. Mas foi um outro detalhe que chamou atenção na produção, já que se trata da terceira refilmagem de uma mesma história.

O filme original foi lançado em 1937. Em 1954 ganhou uma nova versão com Judy Garland como a protagonista. Em 1976, foi a vez de Barbra Streisand assumir o papel da jovem sonhadora em busca da fama.  Agora, a nova versão promoveu um debate acerca da criatividade na indústria cinematográfica.

O cinema é conhecido como a sétima arte e é apreciado desde seu surgimento em 1895. Com o passar do tempo, ele adquiriu as características de uma indústria com os lucros obtidos com as bilheterias dos filmes, então, muitas das produções cinematográficas colocaram o sucesso comercial como seu principal objetivo. Assim, surgem as grandes franquias, filmes que ganham inúmeras continuações e legiões de fãs ao redor do mundo.

Depois de 8 filmes na saga Harry Potter, a franquia ganhou uma novos filmes com Animais Fantásticos e Onde Habitam (Foto: Reprodução/Internet)

Depois de 8 filmes na saga Harry Potter, a franquia ganhou novos filmes com Animais Fantásticos e Onde Habitam (Foto: Reprodução/Internet)

As grandes produções de Hollywood são conhecidas como blockbusters, filmes que os estúdios apostam que farão grandes números de bilheteria mundialmente e recebem investimento pesado de divulgação para isso, o que normalmente gera uma grande demanda de público.

Na visão do jornalista e presidente da Associação Cearense de Críticos de Cinema (Accecine), Diego Benevides, esses filmes são responsáveis por monopolizar as salas de cinemas no país. “Muitas vezes, um blockbuster ocupa metade das salas de um mesmo complexo de cinemas, sendo que vários outros filmes não conseguem uma sessão sequer nesse mesmo exibidor”, afirma.

Buscar esse sucesso comercial fez o cinema orbitar em volta de gêneros que se mostraram extremamente populares com o público, ou seja, sucessos certos. Hoje, podemos perceber que o foco são os filmes de super-herói, que somaram 7 produções lançadas entre fevereiro e outubro de 2018, todas muito populares entre o público.

Vingadores: Guerra Infinita é o décimo nono filme do Universo Marvel e se tornou a maior estreia da história do cinema (Foto: Reprodução/Internet)

Vingadores: Guerra Infinita é o décimo nono filme do Universo Marvel e se tornou a maior estreia da história do cinema (Foto: Reprodução/Internet)

O professor do Curso de Cinema da UFC, Marcelo Dídimo, explica como a indústria do cinema alterna entre diferentes gêneros. “Durante muito tempo, o western [filmes de Velho Oeste] foi o sustentáculo financeiro de Hollywood, o musical já teve sua era de ouro, o suspense noir se destacou em meados do século passado, a ficção científica garantiu seu lugar ao sol a partir da década de 1970. O gênero sempre teve uma forte presença no cinema americano, até que as bilheterias comecem a despencar e apareça um novo gênero que caia nas graças do povo”.

Mas e a criatividade?

Ainda com o sucesso comercial em mente, surgiram novas formas dos estúdios apostarem em filmes que possuem mais chances de se tornarem sucessos, os chamados remakes e reboots. Os primeiros são novas versões de um filme, que trazem elementos novos mas essencialmente apresentam uma mesma história, que é o caso de Nasce uma Estrela. Já os reboots acontecem quando uma franquia é reiniciada, como os filmes do Homem-Aranha que recebem um novo começo com outros atores.

Para o jornalista e mestrando em Cinema na UFC, Davi Ferreira, reboots e remakes dão certo por apostarem na nostalgia. “Além da segurança de colocar em cartaz títulos já consagrados entre determinados públicos, existe também uma constante onda nostálgica no entretenimento. Aquela ideia de que a moda é cíclica se encaixa aqui perfeitamente, no sentido de que velhas tendências tendem a voltar repaginadas ganhando novos adeptos”.

Esse predomínio de um gênero específico e a repetição de filmes são suficientes para apontar que Hollywood prefere ideias já consagradas do que novas, mas isso não significa que elas não existem. Para o jornalista Diego Benevides, há muitos filmes com temáticas diferentes que não chegam às salas de cinema tradicionais. “Cinema também é arte, então se considerarmos os filmes que se preocupam prioritariamente com a qualidade artística, não acredito que haja crise de criatividade. Esses filmes não têm o mesmo apelo que os comerciais e, muitas vezes, nem estreiam em todas as cidades do Brasil”, pondera.

O elogiado filme uruguaio Uma Noite de 12 Anos está em exibição em pouquíssimas salas no Brasil (Foto: Reprodução/Internet)

O elogiado filme uruguaio Uma Noite de 12 Anos está em exibição em pouquíssimas salas no Brasil (Foto: Reprodução/Internet)

Na concepção do professor Marcelo Dídimo, a greve dos roteiristas de 2007 repercute nas produções cinematográficas até hoje, com a migração dos realizadores para a TV. “Após a greve, muitos roteiristas, diretores, atores e atrizes acabaram indo para esse nicho, que se mostrou um terreno bem mais fértil para a criatividade dos seus autores, que muitas vezes ficavam incomodados com as restrições impostas pelas majors [grandes empresas] de cinema”, comenta.

Em Fortaleza, há espaços onde é possível conhecer a diversidade do cinema mundial e fugir dos filmes do circuito comercial, como indica o jornalista Davi Ferreira. “Fortaleza tem o privilégio de contar com o Cinema do Dragão, que é uma das principais fontes para quem busca outros filmes além dos blockbusters. O Cineteatro São Luiz tem sido também uma boa opção para divulgar outras produções, inclusive locais, em uma região central da cidade”.

Reportagem de Fabrício Girão com orientação de Carolina Areal.

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