25/06/20

Mães Pela Diversidade: Amor e apoio à luta LGBT+

Integrantes do Mães Pela Diversidade Ceará na Biblioteca Pública Municipal de Fortaleza durante evento em alusão ao dia Nacional de visibilidade de Travestis e Transexuais (Foto: Reprodução/Instagram)

Somente entre janeiro e junho de 2019, o Brasil somou 513 denúncias de violência contra pessoas LGBT+. Os dados são do Disque 100, linha de denúncias vinculada ao Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos. Embora os números tenham caído — foram 713 casos em 2018 —, o próprio Ministério afirma que a queda não representa uma diminuição da violência, mas sim uma subnotificação de quando ela acontece.

É nesse contexto de resistência à opressão que aliados que se engajem na luta LGBTQIA+ se mostram importantes. Um exemplo é o Mães Pela Diversidade, uma associação de mães e pais que traçam caminhos de cuidado e proteção de seus filhos LGBT em uma sociedade onde essa população é alvo constante de discriminação e violência.

A fotógrafa Yandra Lobo se juntou ao Mães Pela Diversidade quando o filho expressou ser uma menina. Yandra se alinhou às pautas LGBT em um momento em que ela e o marido sentiram-se perdidos. “Eu percebi que o meu filho caçula tinha um comportamento diferente do que a sociedade espera do que é ser um garoto. Eu e meu marido tivemos aquele sentimento de solidão, de estar vivendo isso sozinhos, e meu filho dizia: ‘eu sou uma menina’, vestia saia e batia o pé com isso. E foi quando eu procurei o Mães pela Diversidade pelo Facebook, mandei uma mensagem e recebi uma resposta muito acolhedora e rápida da coordenadora aqui no Ceará”, relata.

A fotógrafa Yandra Lobo, mãe de uma menina trans, encontrou o grupo Mães pela Diversidade no Facebook (Foto: Arquivo Pessoal)

A fotógrafa Yandra Lobo, mãe de uma menina trans, encontrou o grupo Mães pela Diversidade no Facebook (Foto: Arquivo Pessoal)

Em contato com pessoas com uma realidade semelhante a dela, Yandra acredita que a luta LGBT na verdade é uma luta da sociedade como um todo. “Dentro das pequenas e grandes lutas políticas, sociais, a grande maioria das pessoas tem algum recorte que faz delas marginais, seja pela cor da pele, seja pela orientação ou identidade sexual. Então, eu penso que mesmo você não sendo um LGBT, é importante pensar e assimilar esses discursos de respeito, de liberdade, porque todo mundo acaba apenas ganhando com isso”, reforça.

Além de acolher famílias, o Mães Pela Diversidade organiza grupos de apoio, rodas de conversa e visitas de sensibilização. A associação surgiu nacionalmente em 2014, fruto da preocupação de pais em relação ao avanço do conservadorismo no Brasil. No Ceará, as ações do Mães Pela Diversidade teve início em 2018, de acordo com a atual coordenadora, Gioconda Aguiar.

Gioconda é corretora de imóveis e mãe de uma mulher trans. A filha, Alexandra, reconheceu sua identidade de gênero na faculdade. Eventualmente, Alexandra conversou com seus pais, que procuraram acolhimento em órgãos da prefeitura, como o Centro de Referência Janaína Dutra. A partir de sugestões, Gioconda se juntou ao Mães Pela Diversidade. “Todos sabem o quanto é difícil paras as minorias no nosso país ter voz, seja negro, pobre, índio, LGBT. Às vezes, há mais de uma denominação citada no mesmo indivíduo. Então, o Mães Pela Diversidade levantou essa voz em defesa dos nossos filhos. Procuramos estar sempre atentas e participando dos movimentos em defesa dos direitos dos nossos filhos LGBT, nas escolas, na sociedade, no trabalho”, explica.

O Mães Pela Diversidade esteve presente na 20ª Parada pela Diversidade Sexual de Fortaleza, em 2019 (Foto: Fabiane de Paula/Diário do Nordeste)

O Mães Pela Diversidade esteve presente na 20ª Parada pela Diversidade Sexual de Fortaleza, em 2019 (Foto: Fabiane de Paula/Diário do Nordeste)

Para Gioconda, o amor é combustível para continuar lutando por mais igualdade e justiça. “São nossos filhos, não tem como deixar de amá-los. Diante da LGBTfobia, nós não permitiremos que nossos filhos e filhas sejam mera estatística, vitimizados pela violência LGBTfóbica, e muito menos que sejam tratados como cidadãos de segunda categoria. Não buscamos privilégios e sim direitos iguais a todas e todos os nossos filhos LGBT”, declara.

Com a criminalização da homotransfobia no Brasil, aprovada pelo Supremo Tribunal Federal em junho de 2019, LGBTs e suas famílias mantém a esperança de viver plenamente em uma sociedade onde prevalecem o respeito e a igualdade.

Reportagem de Mateus Brisa com orientação de Fabrício Girão e Síria Mapurunga

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