13/08/19

As motivações e os obstáculos do voluntariado

Para exercer o trabalho voluntário, é necessário compreender o universo de quem está sendo beneficiado, além de ter muito comprometimento e disponibilidade (Foto: Reprodução/Internet)

De acordo com a Pesquisa Nacional de Amostra por Domicílios (Pnad), 7,2 milhões de pessoas realizaram algum tipo de trabalho voluntário no Brasil em 2018. No país, o trabalho voluntário é regulamentado desde 1998 e possibilitou o crescimento das Organizações não Governamentais (ONGs). Segundo os últimos dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), o Brasil teve, em 2016, 820 mil ONGs em atividade no país.

Seja na área da saúde, educação ou meio ambiente, o voluntariado tem um papel fundamental na promoção de ações que, muitas vezes, não são praticadas pelo poder público. Roberto Ravagnani é palestrante e jornalista especializado em voluntariado. Ele comenta sobre a falta de apoio ao trabalho voluntário:

"O setor governamental pode e precisa fazer muito mais. Até porque boa parte do setor governamental pode receber voluntários e isso deveria ser uma estratégia de política pública. Porque você trazendo esses voluntários para dentro do governo, ele pode ajudar com ideias, ele pode ajudar, até mesmo, com fiscalização e ele também vai ser uma crítica do governo, mas uma crítica com conhecimento. E não acontece [apoio ao voluntariado] por parte das empresas. As empresas ainda estão muito tímidas na questão do voluntariado corporativo. Então elas poderiam ter muito mais voluntários engajados em ações sociais e também sair da prática do voluntariado feijão com arroz. Então, realmente, essa áreas - tanto o governo quanto o empresariado - poderiam criar muito mais e apoiar muito mais o trabalho voluntário".

Mesmo com a falta de apoio, ações baseadas em trabalho voluntário acontecem todos os anos. Na imagem, voluntários da 5ª edição da The Street Store, realizada em 2018 (Foto: Vitória Costa/The Street Store)

Mesmo com a falta de apoio, ações baseadas em trabalho voluntário acontecem todos os anos. Na imagem, voluntários da 5ª edição da The Street Store, realizada em 2018 (Foto: Vitória Costa/The Street Store)

Além da falta de apoio, outro problema encontrado pelos voluntários é o engajamento da população para essas ações. De acordo com o último Índice Global de Solidariedade, realizado em 2017, o Brasil ocupa a 75ª posição no ranking de 139 países mais voluntários. O jornalista Roberto Ravagnani cita as principais dificuldades para o cultivo de ações de interesse social no país:

"Eu acho que ainda falta a questão da cultura. Outros países praticam muito mais o voluntariado por conta do assunto estar inserido na educação. Ou seja, as crianças já ouvem falar sobre trabalho voluntário desde o ensino fundamental, no ensino médio e no ensino universitário. Outras questões com relação a isso são a falta de uma transparência com relação ao trabalho voluntário. Acho que o trabalho voluntário já foi muito explorado de uma forma errada. Há muito tempo, ele foi visto por organizações sociais sendo um trabalhador sem um custo para a organização e isso gerou muitos problemas com relação à justiça até a criação da lei. Então esse também é um problema, porque as pessoas, tanto do lado das organizações, como do lado dos voluntários, não querem ser explorados, obviamente".

Mesmo com as dificuldades, as Organizações buscam manter as atividades e a missão de promover melhorias em todos os setores da sociedade. Em 2019, o projeto Escuta na Praça surgiu com o objetivo de levar acolhimento terapêutico em locais públicos de Fortaleza. Uma vez por mês, mais de 20 psicólogos se reúnem para atender aqueles que não têm condições de pagar por um atendimento psicológico. Para participar só é necessário estar presente no local e aguardar a vez. Amanda Rodrigues é psicóloga e coordenadora do projeto. Ela fala sobre os benefícios do trabalho que realiza:

"Eu acho que o mais importante é o atendimento às pessoas. Nessas ações, a gente já atendeu mais de 70 pessoas. A gente conseguiu fazer com que algumas pessoas que estavam receosas em ir ao psicólogo saíssem de lá dizendo 'não, agora eu vou marcar, porque eu vi que não é uma coisa assim tão difícil, ir ao psicólogo'. Eu acho que as pessoas começaram a olhar um pouco diferente. Eu acho que esse é o principal, a gente ter atendido esse número de pessoas. A gente está aqui em Fortaleza e atende gente de Horizonte, de Maracanaú, de Caucaia, que foram exclusivamente para esse atendimento".

O projeto Escuta na Praça deve ter a 5ª edição ainda no mês de agosto. Segundo a organização, a iniciativa deve estar presente em outros locais públicos, como nas escolas (Foto: Arquivo Pessoal/Adriano Pordeus)

O projeto Escuta na Praça deve ter a 5ª edição ainda no mês de agosto. Segundo a organização, a iniciativa deve estar presente em outros locais públicos, como nas escolas (Foto: Arquivo Pessoal/Adriano Pordeus)

Outra prática que acontece na capital cearense é a The Street Store. A iniciativa, que surgiu na África do Sul em 2014 chegou a Fortaleza no mesmo ano, e articula ações para a população em situação de rua. Vitória Costa é uma das integrantes do movimento. Ela explica como funciona o trabalho na organização:

"No The Street Store, a gente tem como base o voluntariado. Ele começa com a organização e aí a gente vai chamando os voluntários para arrecadar o máximo de roupas, de acessórios e tudo que pode ser repassado. E aí, passa pela triagem e a gente leva até a Praça do Ferreira e dispõe aos moradores de rua de forma digna. E com o The Street Store, ele [pessoa em situação de rua] tem a possibilidade de estar coletando os artigos de forma como se estivesse em uma loja".

Para celebrar a importância do voluntariado, em 28 de agosto é comemorado o Dia Nacional do Voluntário.

Reportagem de Pedro Silva com orientação de Carolina Areal e Igor Vieira

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