09/11/17

Campanha Novembro Azul combate o câncer de próstata

Mais de 62 mil brasileiros desenvolvem o câncer de próstata por ano (Foto: Reprodução/Internet)

Durante o mês de outubro, foi comum ver locais públicos na cidade de Fortaleza cobertos com iluminação rosa, como as estátuas de Iracema na Av. Beira-Mar e os espigões na Praia de Iracema. O motivo foi o Outubro Rosa, campanha de conscientização sobre o câncer de mama, que é o segundo tipo que mais afeta as mulheres brasileiras, atrás apenas do câncer de pele não-melanoma.

Porém, com o final de outubro e o começo de novembro, tem início outra campanha de conscientização sobre o câncer que também merece visibilidade. É o Novembro Azul, e seu objetivo é combater o câncer de próstata, que é o segundo tipo que mais afeta os homens, e, de acordo com dados de 2015 do Ministério da Saúde, causa a morte de um brasileiro a cada 36 minutos.

O urologista Alexandre Sabóia, ligado ao Hospital Universitário Walter Cantídio da Universidade Federal do Ceará (UFC), afirma que o câncer de próstata é extremamente comum “porque a próstata vai tendo várias mutações durante a vida, acontece muita mudança nas células, muita morte celular, e isso causa mutações no DNA que levam ao câncer”.

De acordo com Marcos Flávio Rocha, presidente da Sociedade Brasileira de Urologia - Seção Ceará (SBU-CE), outro aspecto que faz a doença ser tão comum são alguns dos fatores de risco associados a ela. "Uma alimentação muito rica em gordura animal, pobre em vegetais, um estilo de vida sedentário, tudo isso está ligado ao câncer de próstata".

Mas não é apenas por ser comum que o câncer de próstata é perigoso. De fato, se descoberto precocemente, a doença tem taxa de 90% de cura. É a sua tardia descoberta que o torna realmente grave. Segundo a Sociedade Brasileira de Urologia, 20% dos casos de câncer de próstata só são diagnosticados em estágios avançados, onde o tratamento é mais difícil e tem uma taxa mais baixa de sucesso.

A importância do exame

Prédios públicos são iluminados em azul para espalhar informação sobre a campanha (Foto: Divulgação/Prefeitura Municipal)

Prédios públicos são iluminados em azul para espalhar informação sobre a campanha (Foto: Divulgação/Prefeitura Municipal)

O motivo para isso é simples: muitos homens não fazem os exames adequados com regularidade. De acordo com pesquisa realizada pelo Datafolha entre junho e julho de 2017, 35% dos homens entre 50 e 59 anos, e 27% dos acima de 60 anos, nunca fizeram o exame de toque retal que é indicado pela SBU para todos os homens a partir dos 50 anos.

O urologista Alexandre Sabóia explica que existem dois exames relevantes para o diagnóstico de câncer de próstata, o exame de toque retal e o exame PSA (sigla em inglês para Antígeno Prostático Específico). Juntos, esses exames têm taxa de acerto entre 95% e 99%, quase que garantindo um diagnóstico correto. Porém, se não realizados em conjunto, eles se tornam menos confiáveis, e é necessário fazer ambos para ter um resultado conclusivo.

Mais do que isso, algumas variações particularmente letais do câncer de próstata não são detectadas de maneira alguma no exame PSA, sendo necessário o exame de toque retal para identificá-los. Sem a realização desse exame, o risco se torna muito mais alto.

Raimundo Nonato de Oliveira, técnico de agropecuária, tem 59 anos e reitera a importância de fazer o exame de toque regularmente. "Eu moro em Independência [interior do Ceará], e todo ano vinha aqui pra Fortaleza pra fazer esse e outros exames, pra me manter saudável. No final do ano passado, depois do resultado do exame, eles pediram pra fazer mais exames, biópsias, e em julho deste ano eu fui diagnosticado com câncer de próstata. Comecei o tratamento da radioterapia em setembro".

Raimundo afirma que conhece "muito homem com 50, 60 anos que não quer fazer o exame, que diz  que ninguém mexe nas minhas partes. Eu falo que não tem nada a ver com isso, que ninguém é menos homem por cuidar da saúde, mas ainda existe bastante preconceito". A pesquisa do Datafolha confirma essa perspectiva com dados que apontam que 21% dos entrevistados não consideram o procedimento “coisa de homem”, e 12% não fazem o exame por vergonha e constrangimento.

As ações da campanha

A Cartilha Urológica foi lançada para esclarecer dúvidas sobre a saúde masculina (Foto: Divulgação)

A Cartilha Urológica foi lançada em julho de 2017 para esclarecer dúvidas sobre a saúde masculina (Foto: Divulgação)

É para espalhar informação sobre o câncer de próstata e combater esse quadro de pouca realização do exame de toque retal que surgiu a campanha Novembro Azul. A ideia teve origem em 2003, na Austrália, com base no dia 17 de Novembro, data em que é comemorado o Dia Mundial de Combate ao Câncer de Próstata. No Brasil, a campanha surgiu em 2012, como iniciativa do Instituto Lado a Lado pela Vida e da Sociedade Brasileira de Urologia, e vem sendo realizada em todos os anos desde então.

Em 2017, um dos destaques da campanha Novembro Azul é a distribuição da Cartilha Urológica, um guia de informações que busca divulgar conhecimento sobre a saúde masculina. A cartilha não fala só sobre o câncer de próstata, mas também sobre diversas outras doenças que podem afetar a população, como o câncer de pênis, a disfunção erétil e a infecção do trato urinário.

Alexandre Sabóia é urologista desde 2011, e diz que, em parte por causa do Novembro Azul, percebeu um aumento notável no número de pacientes que buscam o exame de toque desde o início de sua carreira. “Ainda existia um preconceito muito grande quando eu comecei, mas com o aumento da informação a mente se abre. Hoje as pessoas falam mais abertamente umas com as outras sobre isso, o paciente chega preparado no exame, e isso torna o trabalho do profissional de saúde muito melhor”.

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