26/02/24

Pesquisa revela a ausência de temas da história afro-brasileira na educação infantil

O ensino da história e da cultura afro-brasileira é garantido em lei, há 21 anos. Mas a prática é pontual, segundo a pesquisadora Cícera Nunes (Foto: André Ávila / Agencia RBS)

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A história afro-brasileira ainda é mal contada ou é silenciada no País.

Um estudo revela que nove, entre dez instituições de Educação Infantil, no Brasil, não abordam conteúdos sobre o tema. A pesquisa foi realizada em 12 cidades, em todas as regiões o País, e avaliou pouco mais de 3.400 turmas da creche e da pré-escola. O estudo é do Itaú Social e da Fundação Maria Cecília Souto Vidigal.

A ausência das questões raciais, na educação infantil, repercute na leitura do mundo e de quem somos. A observação é da professora Cícera Nunes, que coordena o Núcleo de Estudos e Pesquisas em Educação, Gênero e Relações Étnico-Raciais da Universidade Regional do Cariri:

"A ausência desse tema na nossa formação gera dificuldades no entendimento do que nós somos enquanto o povo, do reconhecimento do legado africano importante para o desenvolvimento da sociedade brasileira. Vai gerar dificuldades na afirmação da identidade positiva pelas crianças negras, também no reconhecimento do valor positivo da diversidade ético-racial presente na sociedade brasileira e, consequentemente, isso vai ter implicações no campo da violência racista."

O ensino da história e da cultura afro-brasileira é garantido em lei, há 21 anos.
Mas a prática é pontual, segundo a pesquisadora Cícera Nunes, que também atua em cursos de formação de professores. Para ela, o estado brasileiro e as instituições de formação e de ensino ainda não deram a devida importância à temática étnico-racial na educação:

"Pra que desde os primeiros anos de vida a escola se comprometa com ações antirrascistas, com a implementação de uma educação antirracista, desenvolvendo ações de respeito, de cuidado, de afirmação ético-racial, de reencontro, de reconexão com o legado africano, com o legado das populações indígenas e isso tem a ver com a formação permanente dos profissionais. Os estudos apontam que há uma dificuldade ainda nesse campo e que é papel do estado fazer esse investimento."

A partir de pesquisas em um bairro negro da cidade do Crato, na Região do Cariri, a professora criou o aplicativo Educaya. No nome, o sentido de resistência e perseverança alcança 13 pontos de memórias que se conectam com as presenças negra e indígena no local.

O aplicativo faz a ponte entre uma “cartografia étnico-racial” da comunidade do Gesso e a escola municipal da região, onde foi implementada uma biblioteca comunitária, mostra a professora Cícera Nunes:

"Que é uma biblioteca de autorias negras e indígenas. Essa biblioteca tanto traz referenciais bibliográficas para o estudo, para a pesquisa dos profissionais da educação quanto livros também de literatura infantil, infanto-juvenil pra crianças, pra jovens. Então, percorrendo os treze pontos de memória, a gente vai ter as indicações das obras que estão à disposição da escola e da comunidade escolar. O aplicativo faz essa esse ético-racial conhecendo a história do bairro e ao mesmo tempo em que eu conheço a história do bairro eu estabeleço essa conexão com a presença negra-indígena nesse território." 

Outro recurso de apoio pedagógico sobre a temática afro-brasileira é a plataforma Anansi – Observatório da Equidade Racial na Educação Básica.

Reportagem de Ana Mary C. Cavalcante

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