08/05/18

Os desafios da Luta Antimanicomial

A proposta da data 18 de maio como o Dia Nacional da Luta Antimanicomial é colocar em pauta a superação do preconceito sobre as pessoas que têm algum tipo de transtorno mental e denunciar o descaso na atenção a saúde mental da população (Foto: Reprodução Internet)

A resistência e as lutas por um novo olhar para a loucura é o tema da exposição exibida no Museu de Arte da Universidade Federal do Ceará.

A mostra reúne as pinturas e esculturas de homens e mulheres que lidam cotidianamente com o tema da saúde mental.

A exposição está inserida na programação do dia 18 de Maio, considerado o Dia Nacional da Luta Antimanicomial, instituído em 1987.

A proposta da data é colocar em pauta a superação do preconceito sobre as pessoas que têm algum tipo de transtorno mental e denunciar o descaso na atenção a saúde mental da população.

A professora Cláudia Oliveira, do Departamento de História da UFC e integrante do Fórum Cearense da Luta Antimanicomial, é a curadora da exposição.

Ela defende que é necessário falar sobre o assunto ainda visto como um estigma.

"No entanto é importante que a gente alarme a noção de saúde mental porque ela se refere a toda a sociedade. Quem de nós não tem sofrimento, não tem angústias que em determinada medida e dependendo como ela se manifesta pode nos dar dores maiores, dimensões maiores do que podemos suportar. É importante a gente ter um novo olhar sobre a questão da loucura e da saúde mental, todos nós temos que ser vistos como cidadãos, como pessoas que tem potencialidades, que são comuns e realmente retirar o estigma é um dos grandes desafios".

O psicólogo Ronaldo Pires também integra o Fórum Cearense da Luta Antimanicomial e aponta a precarização do serviço público como uma das maiores dificuldades na realização do tratamento, assim como a insuficiência do número de profissionais.

"Tem uma dificuldade que digamos assim, é estrutural, que é a precarização dos serviços. Por exemplo, que dificulta o tratamento e a procura. Como os CAPS que são o principal dispositivo da reforma psiquiátrica estão precarizados, sucateados, então eles tem baixa capacidade de atender a demanda. Tem alguns casos que algumas pessoas são encaminhadas para o CAPS mas vão ser atendidas daqui a quatro meses. Se elas precisam de um psicólogo elas entram em fila de espera, se elas vão precisar de um psiquiatra elas vão enfrentar uma outra fila de espera que pode durar meses".

Em Fortaleza, existem 15 Centros de Apoio Psicossocial, os CAPS, sendo 6 unidades destinadas para pessoas com transtornos mentais graves e persistentes.

Sete para o tratamento de pessoas dependentes de álcool e drogas e duas unidades voltadas ao atendimento de crianças e adolescentes.

A coordenadora do Centro de Apoio Psicossocial da Regional 5 de Fortaleza, Luciene Alves, espera que o concurso anunciado pelo Prefeito Roberto Cláudio possa suprir a carência de profissionais no CAPS.

O concurso é especificamente para a área de saúde mental e foi divulgado no dia 3 de maio.

"A nossa necessidade pela questão do concurso público ela é antiga porque a gente está num processo atual mais de processo seletivo. A seleção pública ela acontece a cada dois anos e os profissionais são lotados nos hospitais, nos postos de saúde e também na rede do CAPS e o vínculo é de dois anos, o contrato é temporário".

Recentemente um edital publicado pelo Governo Federal destina 87 milhões de reais para a contratação de entidades privadas que acolham pessoas que sofrem com a dependência de álcool e outras drogas, as chamadas comunidades terapêuticas.

O programa que envolve os Ministérios da Justiça, Saúde e Trabalho é visto pelo psicólogo Ronaldo Pires como uma questão problemática.

"A gente tem visto que o funcionamento dessas comunidades terapêuticas tem sido extremamente precárias também. Vários profissionais que recebem pessoas que já passaram no CAPS falam da reclamação desse clima que é produzido dentro dessas unidades, a fiscalização ainda é muito baixa. O próprio Ministério Público reconhece que é difícil chegar porque algumas  não são colocadas ainda como instituições de saúde, então é muito difícil acompanhar de perto e quando existe esse acompanhamento ele é muito precário. Então a gente precisa voltar os olhos melhor para essa questão das comunidades terapêuticas que tem crescido de maneira muito avassaladora a ponto do próprio poder público não ter controle sobre o que é que está se fazendo dentro desses espaços e os conselhos de classe e as instituições tem recebido uma série de reclamações sobre maus tratos, sobre certas condutas que existem nessas comunidades terapêuticas que de terapêuticas não tem nada".

A luta antimanicomial deve ser uma pauta constante na desconstrução dos estigmas em relação às pessoas que passam ou passaram por algum sofrimento psíquico.

Reportagem de Karoline Sousa com orientação de Carolina Areal.

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