17/09/18

A importância da educação para um trânsito seguro

A educação de trânsito é fundamental para a prevenção de acidentes. Em 2017, após cinco anos em queda, as mortes no trânsito tiveram alta de 23% (Foto: Reprodução/Internet)

A imprudência no trânsito é uma realidade que afeta a vida de muitos brasileiros. De acordo com o seguro DPVAT, em 2017, o Brasil registrou 41.151 vítimas de acidentes envolvendo veículos automotores. O dado reflete a ausência de um processo de ensino e conscientização mais eficaz para pedestres e condutores.

A pedagoga e especialista em trânsito, Eliane Pietsak, critica a condição atual que envolve a educação de trânsito:

"Nós temos aí o Código de Trânsito Brasileiro, que é um dos mais modernos do mundo, e que prevê a educação para o trânsito desde a educação infantil até o ensino superior. E nós não temos isso. Isso nunca foi efetivamente colocado. Não se vê, isso não acontece. O que nós temos são ações pontuais que, a longo prazo, não trazem os mesmos benefícios que nós poderíamos ter com educação para o trânsito frequente. Além do que, nós temos aí os cursos de formação de condutores que treinam os alunos para serem aprovados e nem sempre isso é a realidade, porque não se desenvolve a empatia, não se desenvolve o respeito ao próximo".

Essa deficiência vai além das imprudências que acontecem todos os dias nas vias. A falta de conhecimento sobre as leis de trânsito, por exemplo, são bastante comuns entre os condutores. Felipe Alves é ciclista e diretor da Organização dos Ciclistas do Brasil (OCB). Ele apresenta um pouco da realidade que encontra ao lidar com motoristas e pedestres:

"O processo para tirar a carteira de motorista ainda é muito falho. Então, a questão tanto dos exames teóricos quanto práticos são muito rasos. E aí, principalmente na parte teórica, muita gente, praticamente, não aprende nada sobre as leis de trânsito. A gente percebe isso porquê enquanto ciclista, no caso, também tenho carteira de motorista, conheço diversos artigos do Código de Trânsito Brasileiro, que quando eu converso com algum motorista, que não está acostumado a pedalar, por exemplo, não está acostumado a pesquisar sobre isso. Às vezes, as pessoas não sabem sobre esses artigos".

Os pedestres e ciclistas são parte fundamental no trânsito. Em 2017, o Detran publicou uma regulamentação que prevê multa a pedestres e ciclistas que andarem fora das áreas permitidas (Foto: Reprodução/Internet)

Os pedestres e ciclistas são parte fundamental no trânsito. Em 2017, o Detran publicou uma regulamentação que prevê multa a pedestres e ciclistas que andarem fora das áreas permitidas (Foto: Reprodução/Internet)

Além dos empecilhos para o desenvolvimento da educação de trânsito, nota-se que os órgãos públicos investem muito mais em outros setores que compõem o tráfego, como as rodovias e os sistemas de fiscalização.

Essa situação se comprova através do Fundo Nacional de Segurança e Educação de Trânsito (FUNSET), responsável por disponibilizar recursos para qualificar ações de conscientização. Entre 2013 e 2017, o FUNSET teve mais de cinco bilhões de reais para investir nessas ações.

Entretanto, de acordo com o programa Boletim em Foco, do canal CNT, apenas 17% desse valor foi utilizado. Para Wagner Queiroz, presidente da Associação de Psicólogos de Trânsito do Ceará, os impactos causados por essa política são negativos:

"A gente vê que o trânsito é formado em um tripé. Investimentos em engenharia, investimentos em educação e investimentos em fiscalização. O que se percebe é que existe um investimento muito grande em engenharia. No entanto, fica a desejar o investimento na área de educação. Não custa nada e o investimento é bem menor, com certeza, que se faz em engenharia, de se ter sempre campanhas, lembrando ao cidadão, condutor de veículo, e ao pedestre também as normas de convivência e segurança para o trânsito".

Para mudar esse cenário é necessário ferramentas para ampliar a educação de trânsito desde os primeiros anos de aprendizagem. O incentivo, dentro das escolas, para se conhecer as regras de trânsito e o respeito aos seus integrantes são fundamentais para a construção de um fluxo mais pacífico.

A pedagoga e especialista em trânsito, Eliane Pietsak, cita algumas medidas que poderiam ser tomadas para propagar esse ensino:

"Bom, as medidas é que se assumam e se coloquem em prática os artigos do CTB [Código de Trânsito Brasileiro], os artigos 74 e 76. Porque ali o problema é que eles não dizem como se fazer. Nunca se colocou isso como deve ser feito. Então o que precisa, de fato, é tomar consciência de que isso precisa e deve ser feito. As escolas precisam assumir, elas precisam enxergar  a educação para o trânsito como algo necessário quanto a língua portuguesa, matemática, ciência, química, física, biologia, em qualquer nível".

As escolas de trânsito são importantes para o processo de conscientização nas vias. Na contramão do país, Fortaleza teve uma redução de 9% nas mortes de trânsito em 2017 (Foto: Reinaldo Jorge/Diário do Nordeste)

As escolas de trânsito são importantes para o processo de conscientização nas vias. Na contramão do país, Fortaleza teve uma redução de 9% nas mortes de trânsito em 2017 (Foto: Reinaldo Jorge/Diário do Nordeste)

Atualmente, em Fortaleza, existem duas escolas voltadas para a educação de trânsito. A Escola Municipal de Mobilidade Urbana, de responsabilidade da Autarquia Municipal de Trânsito de Fortaleza (AMC) tem capacidade para receber cem alunos todos os dias. A instituição oferece uma estrutura com ciclofaixas, pista de vivência e um espaço para gincanas. Assim como atividades para estudantes de 5 a 17 anos, vindo de escolas públicas ou privadas.

Já a Escola de Educação para o Trânsito existe desde 2009 e é administrada pelo Departamento Estadual de Trânsito (Detran). Ela também atende estudantes de instituições públicas e privadas. O local oferece atividades que proporcionam incentivos para a formação de uma consciência mais pacífica no trânsito.

Procuradas pela Rádio Universitária FM para falarem sobre os seus projetos de educação, a AMC e o Detran não retornaram aos contatos até o fechamento da reportagem.

Reportagem de Pedro Silva com orientação de Carolina Areal.

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