15/07/16

Jorge Amado e a religiosidade afro-brasileira

Escritor Jorge Amado (Foto/Divulgação)

Nesta semana, a seção Memória do site da Universitária FM presta uma homenagem a Jorge Amado (1912-2001). Resgatamos uma entrevista do escritor ao programa Reouvindo o Nordeste do ano de 1982, sobre o tema Candomblé, misticismo e crenças do povo brasileiro.

O Candomblé é uma religião afro-brasileira que chegou ao Brasil através dos negros que aqui desembarcaram para serem escravizados a partir do século XVI. Essa religião de matriz africana tem inspiração no animismo, ou seja, os orixás são divindades que representam elementos e forças da natureza. Os espaços para encontros e práticas religiosas eram as senzalas, os quilombos e os terreiros. A Igreja Católica era contra os rituais do candomblé, também considerados como atos criminosos pelo governo na época.

Embora não se considerasse religioso, Jorge Amado dizia acreditar em milagres e foi nomeado obá de Xangô, um dos mais altos títulos do Candomblé da Bahia, abaixo hierarquicamente do pai e da mãe de santo. "Eu me sinto extremamente honrado em possuir esse título, tão honrado quanto o fato de ser membro da Academia Brasileira de Letras ou Cavaleiro da Ordem de Artes e Letras da França", ressalta. Outros intelectuais baianos reconhecidos como obás eram o músico e compositor Dorival Caymmi (1914-2008) e o artista plástico Carybé (1911-1997).

Jorge Leal Amado de Faria nasceu em 10 de agosto de 1912, em Itabuna (BA), na região cacaueira do sul baiano. É um dos principais autores da literatura brasileira, reconhecido no exterior, publicado em 80 países e traduzido para 49 idiomas. O livro de estreia, O país do carnaval, foi lançado em 1931. De 1945 até o final da vida, foi casado com a escritora Zélia Gattai (1916-2008). Militante comunista, por muitos anos viveu no exílio, em países como Argentina, Uruguai, França, e na antiga República Tcheca, para retornar ao Brasil em 1955 e se dedicar exclusivamente à literatura. Em 1961, foi eleito para a Academia Brasileira de Letras na cadeira nº 23, cujo patrono era José de Alencar e o primeiro ocupante do assento foi Machado de Assis. Faleceu em 6 de agosto de 2001, em Salvador (BA), de parada cardiorrespiratória, a 4 dias de completar 89 anos de idade.

Autor consagrado por obras como "Gabriela, cravo e canela" e "Dona Flor e seus dois maridos", Jorge Amado também se dedicou à política e às heranças africanas do povo brasileiro. Em 1945, foi eleito deputado federal pelo Partido Comunista Brasileiro (PCB), e responsável pela emenda constitucional que garantiu liberdade de crença e culto no Brasil, escrita na Carta Magna de 1946, e depois anexada ao Artigo 5º da Constituição Federal de 1988, vigente até os dias atuais. "Desde muito jovem eu luto ao lado do povo negro, do povo mestiço da Bahia contra aquela monstruosa perseguição religiosa que houve até o fim da guerra. Estou muito contente de ter sido deputado federal pelo estado de São Paulo durante dois anos e ser um dos autores da emenda constitucional que veio garantir a liberdade religiosa no Brasil", declara o autor na entrevista.

Em 27 de agosto de 1982, o escritor foi convidado do programa "Reouvindo o Nordeste" e o assunto da entrevista foi candomblé, misticismo e crenças do povo brasileiro. O programa teve produção e apresentação de Rodger Rogério e operação de áudio de Paulo Roberto Frazão. Ouça o programa completo:

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