18/06/19

Teatro cearense: um panorama

Apresentar-se no Theatro José de Alencar, o maior teatro de Fortaleza, ainda é um sonho distante para muitos grupos de teatro no Ceará (Foto: Alex Uchoa)

Os primeiros registros do teatro no Ceará datam de 1830, com a primeira casa de espetáculos em fortaleza, chamada Teatro Concórdia. De lá pra cá muitas mudanças ocorreram, mas a presença do teatro persistiu. Persistiu inclusive na vida de Rogério Mesquita, que  faz teatro há mais de 20 anos. Começou ainda no ensino médio e depois fez o curso de Princípios Básicos de Teatro ofertado pelo Theatro José de Alencar.

Nos anos dois mil, Rogério e outros dois amigos fundaram a Companhia de Teatro Bagaceira, um grupo de teatro experimental. Atualmente a companhia conta com 19 espetáculos montados que já percorreram todas as regiões do país. Apesar do reconhecimento que o Grupo de Teatro Bagaceira conseguiu, Rogério afirma que ainda há dificuldades em fazer arte no Ceará:

“Nós somos inviabilizados financeiramente. Um espetáculo para 60 pessoas não se paga. Então está aí a importância de políticas públicas. O desafio é manter as portas abertas neste cenário cada vez mais caótico, um cenário nacional cada vez mais violento e que não condiz com a sensibilidade que a arte traria à população se ela tivesse acesso de fato a esse tipo de linguagem”.

Segundo a Secretaria da Cultura do Estado do Ceará (Secult-CE), em 2018 a pasta ganhou quase o dobro do orçamento que tinha quatro anos antes. O Plano Estadual de Cultura do Ceará, dentre outras ações, prevê o desenvolvimento de teatros, o fomento das artes e manifestações cearenses e uma maior presença da política cultural no interior.

Mesmo com as projeções do Governo do Estado, ainda há um longo caminho a ser percorrido no que se refere ao amplo acesso aos palcos. A Companhia Nóis de Teatro procura, há 17 anos, diminuir essa distância atuando na periferia de Fortaleza. Situado no bairro Grande Bom Jardim, o Nóis de Teatro atua no teatro de rua e com sua atenção voltada para a comunidade. Altemar Di Monteiro é coordenador do grupo e explica sobre o projeto:

“A nossa principal temática trabalhada é o recorte social que está cruzando as nossas relações com a comunidade, nossas relações com a cidade. A principal pauta do nosso trabalho sempre foi discutir cidade nos nossos espetáculos. A gente tem se mantido através dos pouquíssimo editais que existem aqui no Ceará e isso tem mudado consideravelmente a qualidade da nossa produção”.

Da esq. para a dir.: Yuri Yamamoto, Rogério Mesquita e Rafael Martins, do Grupo Bagaceira de Teatro, em cena do espetáculo Meire Love (Foto: Renato Souza)

Da esq. para a dir.: Yuri Yamamoto, Rogério Mesquita e Rafael Martins, do Grupo Bagaceira de Teatro, em cena do espetáculo Meire Love (Foto: Renato Souza)

Uma maneira encontrada para discutir as necessidades que pautam o teatro e a comunidade artística do estado foi a criação do Fórum Cearense de Teatro. As reuniões são abertas e debatem os editais disponíveis, ações para fomento do teatro e informes gerais sobre o cenário cultural do estado. Raimundo Moreira é membro do Fórum e trabalha na área há mais de 25 anos. Ele comenta sobre a importância dessas reuniões:

“As pessoas têm acesso às pautas, ao que é decidido, então é um espaço democrático para debater o teatro. Realmente é um movimento de muita força e tem tido na medida do possível um diálogo muito forte com as duas secretarias, tanto a Secultfor [Secretaria da Cultura de Fortaleza] quanto a Secult-CE tem uma respeitabilidade muito grande pelo Fórum de Teatro”.

Apesar da articulação do Fórum, Raimundo Moreira afirma que ainda hoje é difícil abranger todo o estado:

“ A gente ainda não consegue atingir o interior, ainda é uma lacuna, mas em Fortaleza com toda certeza e nisso nós temos várias Fortalezas. Tem a distância, quem mora mais longe tem dificuldade de ir, quem é do interior não consegue vir porque as reuniões são sempre na capital, então essas dificuldades de logísticas acontecem mas não  invalidam a força e a representatividade do Fórum”.

Ainda não há dados específicos sobre a quantidade de companhias de teatro ou sobre a atuação delas. Entretanto, o Fórum Cearense de Teatro discute a organização de seminários para o levantamento desses dados, de forma que possam, inclusive, se reconhecerem na trajetória que construíram e também como um espaço de luta.

Reportagem de Calianne Celedônio com orientação de Carol Areal e Igor Vieira

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