24/08/21

Sementes de Paulo Freire com Ruth Cavalcante

Esta foi a segunda matéria da série especial da Rádio Universitária em homenagem ao centenário do educador Paulo Freire (Foto: Reprodução/Internet)

Nos anos de 1960, a estudante secundarista Ruth Cavalcante fazia parte da Juventude Estudantil Católica. Foi nesse espaço que se deparou com o Paulo Freire teórico, lendo as obras do pensador com seus companheiros e companheiras de Ação Católica.

Na casa dos 20 anos, entrou para o MEB - Movimento de Educação de Base e participou da maior experiência de educação popular do país: o trabalho de alfabetização e conscientização promovido através das Escolas Radiofônicas. Ali Ruth conheceu o Paulo Freire educador, tendo a chance de ser orientada por ele, como assessor do movimento.

Naqueles tempos, a ditadura militar tomaria de assalto o país, impactando diretamente o trabalho do MEB, do educador Paulo Freire e da então militante do movimento estudantil Ruth Cavalcante. No trigésimo Congresso da União Nacional dos Estudantes em Ibiúna, interior de São Paulo, em 1968, ela foi presa e enquadrada na Lei de Segurança Nacional. Quando voltou para Fortaleza, em dezembro do mesmo ano, o regime havia instaurado o Ato Institucional nº 5:

"E eu fui presa dentro do campus da Universidade Federal do Ceará, dando um curso sobre Paulo Freire. Que na época, a ditadura já o perseguia. Ele já tinha sido preso. Ele já estava exilado no Chile, e depois na Europa, onde nos encontramos. Então quando eu voltei [para o Brasil], já como anistiada política, a Maria Luíza Fontenele, que era deputada estadual, me chamou pra eu dar um curso sobre Paulo Freire. Eu voltei fazendo a mesma atividade que eu fazia antes".

Quase 11 anos separam os dois momentos; um ciclo de retorno acompanhado pelos ideais e práticas da educação libertadora e transformadora freireana. A psicopedagoga que se formou na academia e na militância seguiu a trilha de Paulo. Ela lembra do que ele respondeu ao educador Moacir Gadotti, quando este perguntou o que achava sobre o plano de abrir um instituto em São Paulo para preservar o seu legado. Paulo Freire teria dito que se fosse para ter seguidores, não gostaria; mas para recriadores, sim.

"Então com essa autorização, há 30 anos eu comecei a desenvolver uma educação chamada Educação Biocêntrica, que tem por base epistemológica o pensamento freireano. Que é essa concepção de que nós somos seres do mundo, portanto, pertencemos ao mundo; somos seres no mundo, então temos a nossa responsabilidade de transformar esse mundo. Porque a gente sabe que a educação não transforma tudo, mas ela transforma o entorno, que leva a uma transformação social".

Pela Educação Biocêntrica retomou a proposição freireana do Círculo de Cultura, onde as pessoas compartilham suas ideias e constroem coletivamente o conhecimento. Já são nove turmas de pós-graduação formadas pela Universidade Estadual do Ceará e pela Universidade Estadual Vale do Acaraú.

Ruth acredita que o modelo pedagógico de Paulo Freire é tão inovador que não envelhece. Pelo contrário, se refaz, se recria. Também por isso acredita que ele segue incomodando. Quando o autoritarismo e a intransigência ganham força e vez na sociedade, os símbolos de liberdade viram alvo:

"Eu penso que hoje o que se faz contra a imagem de Paulo Freire é porque, de fato, o pensamento dele continua presente. Quando ele propõe uma consciência crítica, isso agride aquelas pessoas que querem manter a pessoa nessa consciência ingênua, de que eu posso tudo, de que só a minha verdade é verdade, diferente da proposta que ele faz. (...) No pensamento do Paulo Freire, quando ele trabalha o pensamento crítico, as pessoas tomam uma posição também transformadora. Então, nesse sentido, é um passo importante para a libertação, quando você criticamente faz uma leitura do mundo".

Esta foi a segunda matéria da série especial da Rádio Universitária em homenagem ao centenário do educador Paulo Freire.

Raquel Dantas para a Rádio Universitária FM.

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