24/10/17

Podcast: rádio sob demanda

Entrevista com os integrantes da banda Forria para o Ceará Sonoro, um podcast produzido pelo site da Rádio Universitária FM (Foto: Divulgação)

No último dia 21 de outubro, o Brasil comemorou o Dia do Podcast. A data é uma celebração a esta recente tecnologia que ganha novos seguidores diariamente. Mas o que é um podcast?

Explicando de forma simples, o podcast é uma espécie de programa de rádio que o ouvinte escuta onde e quando quiser. Paula Marques é professora de Sistemas e Mídias Digitais da UFC (Universidade Federal do Ceará) e desenvolveu sua dissertação de mestrado sobre os procedimentos de construção de um podcast. Ela esclarece quais as diferenças entre essa nova plataforma sonora e o rádio tradicional:

"Se a gente for pensar na diferença entre essas duas formas de transmissão, a gente vai ter o rádio em tempo real e o podcast sob demanda. Então essa é a grande diferença. No rádio, você não pode parar, você não pode voltar esse conteúdo ou reservá-lo para ouvir em um outro momento. O momento da transmissão é o mesmo da recepção. E aí a gente fica um pouco refém dessa mídia massiva porque a gente teria que estar disponível para receber esse conteúdo no momento da transmissão. E no caso do podcast, ele é por assinatura, ou no momento que você tiver interesse, que o ouvinte tiver interesse, ele vai lá e baixa esse arquivo e vai executar, vai escutar na mídia, no momento mais oportuno para ele".

Um exemplo de podcast brasileiro é o Chá Com Rapadura, um projeto cheio de humor criado por cinco mulheres cearenses que vivem na Inglaterra. A ideia delas é criar uma ponte cultural entre o Ceará e as terras da Rainha. Cíntia Bailey é a criadora do projeto e destaca os desafios e os benefícios no processo de produção do podcast:

"Decidir não fazer vídeo, tipo criar um canal no youtube ou escrever um blog, essa decisão de fazer áudio, só áudio, foi muito difícil porque eu diria que convencer as outras meninas que podia dar certo não foi fácil. Elas não ouviam podcast antes e achavam que ninguém ia seguir o Chá. Mas é um mundo maravilhoso esse da podosfera brasileira, viu? E tem muita gente fazendo muita coisa boa. Se você pensar que, por ser somente áudio, você acaba não perdendo muito tempo pensando nas outras coisas, no visual, na escrita, você fala o que vem na mente".

As cinco participantes do Chá Com Rapadura, da esquerda para a direita : Cíntia, Brena, Thaís, Riviane e Taianá (Foto: Divulgação)

As cinco participantes do Chá Com Rapadura (da esq. para a dir.): Cíntia, Brena, Thaís, Riviane e Taianá (Foto: Divulgação)

O Nome Disso é Mundo é outro podcast brasileiro que atravessa fronteiras. Este projeto busca entender quais são as diferenças culturais e sociais que existem entre os países, sempre deixando de lado o preconceito e os estereótipos encontrados na mídia de massa. O cearense Filipe Teixeira vive na Colômbia e criou esse podcast como uma forma de conhecer o cotidiano de pessoas que vivem em países que muitas vezes são desconhecidos do público.

"Por mais que a gente tenha entrevistas com pessoas que moraram em países, vamos dizer assim, mais mainstream, como Estados Unidos e os países da Europa ocidental, os países são, na verdade, bem diversos. A gente tem entrevistas com gente que morou no Quênia, ou nas Ilhas Maurício, Macau etc. São países que não são o seu primeiro destino. Então essa diversidade esteve sempre, agora só tá especificando mais ainda com esses temas como África, Islã e outras coisas que podem surgir por aí".

Trazendo para o cenário de Fortaleza, a Radio Universitária FM também produz o seu próprio material. Com uma regularidade de 15 dias, a Rádio veicula o podcast Entrevista e o podcast Ceará Sonoro como uma forma de valorizar e disseminar a cultura cearense. Segundo Carolina Areal, jornalista da Rádio Universitária FM, os podcasts são uma tentativa da Rádio de acompanhar as evoluções tecnológicas:

"A Rádio Universitária já atua como uma rádio educativa há 36 anos e acho que com os podcasts Entrevista e Ceará Sonoro, a Rádio percebeu que precisava se reinventar, porque o rádio continua sendo um meio de comunicação importante, comunicação de massa, uma comunicação popular e plural, mas ela também precisa chegar a outros públicos, um público mais jovem, um público que está conectado diretamente à internet. Então é um processo de acompanhar as novas tecnologias".

O músico Zéis, vocalista da banda Capotes Pretos na Terrrr Mafim, foi um dos participantes do Ceará Sonoro (Foto: Emanuel Silva)

O músico Zéis, vocalista da banda Capotes Pretos na Terra do Marfim, foi um dos participantes do podcast Ceará Sonoro (Foto: Emanuel Silva)

Uma forte característica do podcast é o seu papel na democratização da comunicação. Diferente das rádios que precisam de uma concessão do governo para funcionar, o podcast pode ser produzido por qualquer pessoa, em qualquer hora e em qualquer lugar. Para a professora do curso de Sistemas e Mídias Digitais da UFC, Paula Marques, essa plataforma sonora traz novas possibilidades para uma produção de conteúdo mais acessível:

"Essa questão do mundo digital é super interessante para que as pessoas tenham acesso a poder se tornar um produtor também e não só um receptor. Sair daquela questão da mídia de massa, do que tá ali pronto para você ver, ouvir e que está te ditando o seu momento e o conteúdo que você vai ver. E as pessoas se apropriarem dessas ferramentas e desses conteúdos para que elas possam produzir, para que elas possam também interagir com esse conteúdo que foi produzido por outras pessoas e que elas também possam significar e ressignificar esse conteúdo dentro do contexto delas".

Nessa onda de novas tecnologias, quem antes só ouvia pode começar a produzir seu próprio material. E o podcast segue como uma alternativa para quem está cansado das mídias tradicionais.

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