23/08/16

Pesquisa aponta alternativa ao agrotóxico no combate à praga de coqueiro

Foto: Drawlio Joca/Globo Rural

Um estudo sobre controle biológico em coqueiros, envolvendo o Prof. José Wagner da Silva Melo, do Departamento de Fitotecnia da Universidade Federal do Ceará (UFC), em parceria com a Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) e a Universidade de Amsterdã (UvA), constatou evidências na efetividade das espécies de ácaro Amblyseius largoensis e Euseius alatus no combate a uma das principais pragas desta cultura, o ácaro-da-necrose-do-coqueiro.

Publicada pela revista científica Experimental and Applied Acarology e pela universidade holandesa, sob o título de "Evidência de Amblyseius largoensis e Euseius alatus como agentes de controle biológico de Aceria guerreronis" (Evidence of Amblyseius largoensis and Euseius alatus as biological control agent of Aceria guerreronis), a pesquisa acompanhou o processo de combate da infestação através do uso das outras duas espécies de ácaro, que agem como predadores do Aceria guerreronis.

O método aponta uma alternativa ao uso excessivo de agrotóxicos nas plantações de coqueiro, que compromete a qualidade do solo, dos corpos hídricos e do potencial de consumo do alimento, além de impactar financeiramente a receita dos produtores de médio e pequeno porte. A ideia é que as informações produzidas durante a investigação sejam utilizadas para aperfeiçoar os atuais processos de manejo de pragas de coqueiro no Brasil, oferecendo uma opção mais acessível ao cultivo da cultura.

O processo funciona assim: os ácaros predadores - no caso, as espécies Amblyseius largoensis e Euseius alatus -, de aproximadamente 0,5 milímetros, acessam a região do fruto onde as pragas residem e, lá, se alimentam delas. E é justamente a simplicidade da prática que chama atenção, tendo em vista que o controle biológico simula as condições de comportamento de espécies que, naturalmente, competem entre si dentro da mesma teia alimentar, ou seja, com seus "inimigos naturais".

Em entrevista para o Portal de Notícias da UFC, o professor José Wagner destacou a importância da investigação. "É um resultado importante para a cultura do coqueiro e consequente para o Brasil, que registra perdas elevadas provocadas pelo ácaro-da-necrose-do-coqueiro, como redução do número, peso, volume de água e valor comercial dos frutos", afirma o estudioso.

Intercâmbio Científico

Conduzida pelos professores Heike Staudacher (UvA), Debora Lima (UFRPE) e Manoel Gondim (UFRPE), a pesquisa também é parte da tese de doutorado "O menor é superior – Refúgio de presas providos por plantas, dinâmica presa-predador e controle biológico" (Small is superior – Plant-provided prey refuges, predator-prey dynamics and biologial control), do pesquisador Fernando Silva, da mesma instituição. Além destes, o estudo teve participação do supracitado professor José Wagner, da UFC, e de Maurice Sabelis, da UvA, um dos maiores especialistas em Acarologia do mundo.

O estudo, motivado inicialmente por uma problemática deste lado do Atlântico, acabou apontando também uma alternativa para um transtorno que afeta produtores do Velho Continente - a praga de ácaro nas plantações de tulipa. Comum na maioria dos países de clima temperado, a o cultivo dessa cultura sofria com os efeitos da peste, que reside entre as pétalas das flores.

Como os ácaros predadores da região são maiores, não conseguem acessar o local da praga. Desse modo, os pesquisadores utilizaram os pequenos ácaros já testados nos coqueiros e os resultados no combate à infestação foram exponencialmente melhores que os anteriores. "O intercâmbio entre os países e pesquisadores representa via de mão dupla no qual os dois podem sair ganhando, sem falar do enriquecimento cultural", sustenta o docente da UFC.

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