21/06/21

Fiocruz pesquisa sobre covid-19 e agentes comunitários

Um dos resultados revelados pela pesquisa foi a incidência de transtornos mentais 30% maior entre esses profissionais em comparação com o restante da população da cidade (Foto: Reprodução/Internet)

Em articulação com pesquisadores de unidades da Fundação Oswaldo Cruz no Nordeste e com a RENASF - Rede Nordeste de Formação em Saúde da Família, a Fiocruz Ceará está coordenando um projeto de pesquisa para compreender o impacto da Covid-19 e da violência no processo de trabalho e saúde mental dos Agentes Comunitários. A responsável pelo projeto é Anya Vieira Meyer, pesquisadora em saúde pública da Fiocruz Ceará.

Desde 2019, Anya já vinha trabalhando em pesquisas com foco na violência existente nos territórios de Fortaleza onde vivem e atuam os Agentes Comunitários de Saúde. Um dos resultados revelados foi a incidência de transtornos mentais 30% maior entre esses profissionais em comparação com o restante da população da cidade.

"Aí em 2020 chega a Covid, trazendo ainda mais estresse para esse agente comunitário, trazendo ainda mais importância pra sua atuação. Mas ele (estando) envolvido num território que já era violento, um território que agora passa por questões sanitárias muito graves, com alta mortalidade, com alto índice de infecção, com medo de levar essa doença pra casa, com receio de não conseguir apoiar a comunidade, por ele assistida, da melhor forma possível."

São justamente os lugares de maior vulnerabilidade social onde os agentes comunitários têm papel central na promoção da saúde e prevenção de doenças, e foram justamente aqueles onde Fortaleza registrou o maior número de mortes por Covid-19.

Anya Meyer, que acabamos de ouvir, junto com os demais pesquisadores envolvidos nesses estudos, perceberam que era importante compreender a relação entre esses fatores de violência e vulnerabilidade social, o quanto a pandemia está agravando essas condições e como esse contexto tem afetado diretamente a vida e o trabalho dos agentes.

"Tudo isso coloca um holofote bem grande na realidade enfrentada por eles e na importância que esses agentes comunitários de saúde têm. Pra vocês terem uma ideia, na Nova Inglaterra, uma região dos Estados Unidos, existem vários municípios que estão contratando pessoas para fazer um trabalho semelhante ao do agente comunitário de saúde nesse controle da pandemia da Covid. E aqui nós temos ele no território, mas com certas limitações de atuação. Então esses dados nos fizeram querer trabalhar ainda mais e investigar ainda mais a fundo a realidade."

Para isso, a pesquisa vai se debruçar sobre diferentes contextos em termos de indicadores de violência e de cobertura dos Agentes Comunitários de Saúde. O estudo será feito em quatro capitais do Nordeste - Fortaleza, Recife, Teresina e João Pessoa, e em quatro cidades do interior do Ceará - Sobral, Juazeiro, Crato e Barbalha.

Anya aponta as perspectivas de contribuição da pesquisa para melhorar a saúde do agente comunitário, qualificar o seu trabalho diante do contexto violência no território e apoiar estratégias de enfrentamento à pandemia e outros problemas de saúde pública.

"Eu acho que a gente vai poder ter uma noção muito clara da realidade e, em cima disso, pensar, propor alternativas e formas de mudar essa realidade, pra que a gente tenha uma Estratégia Saúde da Família mais efetiva, trabalhando ainda mais para a comunidade e melhorando os indicadores de saúde da população e modificando essa realidade tão triste que a gente tem enfrentado."

O projeto tem financiamento da Fundação Lemann Brasil, em parceria com a Universidade de Harvard, além de incentivos da Funcap - Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico.

Raquel Dantas para a Rádio Universitária FM.

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