13/06/19

Consumo consciente: responsabilidade e sustentabilidade

O consumo consciente tem a sua base no equilíbrio entre a sustentabilidade e a satisfação pessoal e coletiva. Ele busca potencializar os benefícios de sua prática para a sociedade, a economia e o meio ambiente (Foto: Reprodução/Internet)

O consumo consciente está ligado à sustentabilidade e ao desenvolvimento de hábitos que buscam a preservação ambiental e o respeito às causas sociais. De acordo com o Indicador de Consumo Consciente (ICC), em 2018, 98% dos consumidores brasileiros consideraram importante à adoção de práticas sustentáveis na hora de utilizar recursos naturais e na compra de produtos.

Além disso, a pesquisa ainda aponta que a quantidade de pessoas que praticam o consumo consciente subiu de 28% para 31% em relação aos dados de 2017. Katyuska Melo é analista de educação e há alguns anos adota hábitos de consumo mais sustentáveis. Ela cita algumas ações que realiza no seu dia a dia:

"A primeira coisa que eu fiz foi diminuir muito o consumo de descartáveis. Depois eu passei a fazer uma coleta mais seletiva do lixo e tendo mais consciência na hora de comprar as coisas. Deixei de consumir detergentes e sabões industriais. Passei a fazer o meu próprio sabão em casa. E a última coisa que eu fiz, mais recente, deixei de consumir absorvente de plástico. A gente tem duas opções hoje disponíveis que são os absorventes de pano ou o coletor".

A reutilização de produtos vem se tornando uma mecanismo importante não só para os cidadãos, mas também para novos empreendimentos. Produtos como bolsas, óculos, jóias, camisetas e itens de decoração, por exemplo, ganham espaço e fazem parte do consumo de boa parte da população (Foto: Reprodução/Internet)

A reutilização de produtos vem se tornando uma mecanismo importante não só para os cidadãos, mas também para novos empreendimentos. Produtos como bolsas, óculos, joias, camisetas e itens de decoração, por exemplo, ganham espaço e fazem parte do consumo de boa parte da população (Foto: Reprodução/Internet)

Na proporção do aumento de consumidores conscientes, os empreendimentos que se dedicam a adoção de meios mais sustentáveis ganham relevância. Nos últimos anos, iniciativas que envolvem práticas como o reaproveitamento de materiais e a agricultura orgânica representam um cenário inovador na economia.

Um desses empreendimentos é a empresa de Juliano Pessoa, que atua na produção de mochilas feitas a partir de materiais que não são recicláveis no país. Juliano explica como surgiu a iniciativa:

"Eu tive uma empresa de coleta seletiva e dentro dos cinco anos que trabalhei com coleta seletiva, eu aprendi muito a deficiência que existe no Brasil de não ter tecnologias para reciclar certos resíduos. A gente não tem tecnologia para reciclá-los, que são, no caso, três componentes da mochila Green Bag. As lonas de carreta, cinto de segurança de carro e disco de vinil. Isso foi me dando uma visão melhor de tentar transformar em outro produto. Então a gente pega esses resíduos, lava, descontamina, classifica naquela utilidade, aproveitando a resistência do cinto, a impermeabilidade da lona e o design do vinil. A gente conseguiu reunir três resíduos e formar  bolsas, mochilas, carteiras e malas de viagem".

Segundo o ICC, 55% dos brasileiros estão no chamado grupo de transição para a adoção de hábitos mais conscientes. Ou seja, esses consumidores realizam algumas práticas sustentáveis, como economizar energia ou diminuir o número de compras, mas suas ações ainda não são ideais.

Além disso, a pesquisa também aponta que 14% dos consumidores não conseguem adquirir práticas sustentáveis. Áurio Leocádio é professor do Departamento de Administração da Universidade Federal do Ceará (UFC) e doutor em consumo pela Universidade de São Paulo (USP). Ele explica quais as dificuldades que as pessoas enfrentam para adotar hábitos mais conscientes:

"Uma delas é a falta de estrutura. Por exemplo, você pode ter um consumidor que faz a separação de lixo em casa, mas ele começa a perceber que não adianta separar o lixo orgânico do lixo reciclável, se a coleta do lixo que ocorre vai misturar esse lixo de qualquer forma. Um outro aspecto é o cultural. São as relações sociais, no qual o consumidor está inserido. Muitas vezes o indivíduo tem o nível de consciência alto, mas ele convive no meio de pessoas que não tem esse nível de consciência. E, muitas vezes, para não ser o diferente, porque o ser humano busca muito a assimilação com o grupo o qual ele convive, ele prefere manter a prática igual a das pessoas que são menos conscientes".

Entender as consequências do consumo desenfreado pode ajudar a evitar que prejuízos naturais e sociais possam acontecer nos próximos anos. De acordo com o Ministério do Meio Ambiente, a humanidade já consome 30% acima dos recursos naturais produzidos pelo planeta (Foto: Reprodução/Internet)

Entender as consequências do consumo desenfreado pode ajudar a evitar que prejuízos naturais e sociais possam acontecer nos próximos anos. De acordo com o Ministério do Meio Ambiente, a humanidade já consome 30% acima dos recursos naturais produzidos pelo planeta (Foto: Reprodução/Internet)

Cerca de 20% da população mundial consome 80% de todos os produtos e serviços existentes. É o que aponta o Instituto Akatu, no relatório O Estado do Mundo, publicado em 2010. Além disso, nos próximos 20 anos, estima-se que três bilhões de pessoas vão utilizar os recursos de forma irresponsável e prejudicarão as gerações futuras.

Mas existem formas de estimular o consumo consciente? O professor Áurio Leocádio cita algumas políticas públicas que poderiam ser colocadas em pauta para expandir ações mais sustentáveis:

"Uma política pública, que vem sendo melhorada, mas ela ainda está muito distante, é a coleta de resíduos. Só 20% dos municípios brasileiros têm coleta seletiva de lixo. Isso aí é uma política pública que tem que ser massificada no país. Um outro aspecto referente a política pública diz respeito a fiscalização. O indivíduo tem que começar a perceber que o público não é de ninguém, que o público é de todos. E um outro aspecto que afeta o nível de consumo consciente é investimentos em processos de reciclagem. Quando a gente fala de plástico, por exemplo, e nós somos o 4° maior produtor de plástico do mundo e o Brasil só recicla 1,2% do lixo plástico que produz".

Reportagem de Pedro Silva com orientação de Carolina Areal

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