30/07/20

A Voz do Brasil: 85 anos no ar

O programa A Voz do Brasil é considerado o mais antigo do país e o segundo mais antigo do mundo (Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil)

Em julho de 2020, o programa de rádio A Voz do Brasil completou 85 anos de história. O noticiário começou como Programa Nacional, passou a ser chamado em 1938 de A Hora do Brasil e, finalmente, em 1971, foi batizado como A Voz do Brasil. Há oito décadas e meia, o programa faz parte do cotidiano dos brasileiros e acompanhou as diversas transformações políticas e sociais da nossa história. Durante o seu período de veiculação, a Voz é considerado o programa de rádio mais antigo do país e o segundo mais antigo do mundo.

Além de cobrir ao todo 12 eleições presidenciais e acompanhar a vigência de 5 constituições, o programa divulgou grandes acontecimentos como, por exemplo, a descida do homem na lua, em 1969, e os primeiros passos da telefonia móvel, em 1973. Nonato Lima é professor do curso de Jornalismo da Universidade Federal do Ceará (UFC) e Diretor da Rádio Universitária FM. Ele acredita que o longo período de veiculação da Voz do Brasil se estabelece com a obrigatoriedade do jornalístico no serviço público de radiodifusão:

“A Longevidade da Voz do Brasil tem a ver com alguns aspectos importantes da história do próprio rádio. Por exemplo: a Era vargas foi a grande incentivadora da expansão das emissoras de rádio em todo o país. Uma expansão, claro, fundamentada num projeto político que deu certo, que resultou no Estado Novo, que foi até 1945, esse é um primeiro aspecto. Isso, claro, consolidou o rádio no território nacional. Outro aspecto é a obrigatoriedade legal da Voz do Brasil que nunca foi tirada da lei. Agora, é de se perceber que essa manutenção da Voz do Brasil como obrigatória primeiro é uma questão do compromisso mesmo do serviço público de radiodifusão.”

Para Nonato Lima, a criação da Voz do Brasil foi uma estratégia bem escolhida por Getúlio Vargas (Foto: Divulgação/ RUFM)

Para Nonato Lima, a criação da Voz do Brasil foi uma estratégia bem escolhida por Getúlio Vargas (Foto: Divulgação/ RUFM)

Durante a vigência do governo de Getúlio Vargas, acontecia o que ficou conhecido como Era do Rádio, quando esse veículo de comunicação se popularizou no país. Com isso, Vargas utilizou o programa, que nessa época chamava-se Programa Nacional, para disseminar suas realizações governamentais.

A Voz do Brasil hoje possui a sua programação dividida em três blocos, que dizem respeito às notícias relacionadas aos três poderes: Executivo, Legislativo e Judiciário. Porém, em 1935, o Programa Nacional divulgava exclusivamente os atos do Poder Executivo, além de informar os principais acontecimentos da vida nacional. A professora do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da UFC, Márcia Vidal, dá detalhes sobre as influências do radiojornal:

“É interessante porque a criação do Programa Nacional, em 1935, foi uma cópia do trabalho que foi realizado nos Estados Unidos pelo presidente Franklin D. Roosevelt, que efetivamente criou a ideia da conversa ao pé da lareira, o chamado programa radiofônico onde o presidente tinha contato direto com os ouvintes e com seus eleitores. Então a partir dessa experiência criada lá nos Estados Unidos pelo Roosevelt, o Getúlio Vargas resolveu imitá-lo aqui no Brasil criando esse programa nacional.”

Em janeiro de 1938, quando o programa recebeu o nome A Hora do Brasil, o jornalístico passou a ser transmitido obrigatoriamente por todas as emissoras do país, entre 19h e 20h. Ao longo dos anos, essa obrigatoriedade vem sendo contestada por diversas emissoras. A professora da UFC Márcia Vidal acredita que, atualmente, o programa poderia ter sua veiculação de forma opcional:

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A professora Márcia Vidal atua com os temas: mídia, radiojornalismo, políticas públicas e movimentos sociais (Foto: Arquivo Pessoal)

“Nesses tempos atuais a obrigatoriedade de transmissão da Voz do Brasil soa extremamente extemporâneo. Então na verdade isso teria que ser revisto. Apesar de que hoje há uma certa flexibilidade na transmissão desse programa que não precisa ser mais no mesmo horário em cadeias de rádio. Mas mesmo assim é extemporâneo você ter no século vinte e um, com uma democracia plena, como a que ainda existe hoje no Brasil, você ter uma obrigação de transmissão de um programa institucional. O programa poderia permanecer, mas a sua veiculação poderia ser opcional.”

Em 4 de abril de 2018, o então presidente Michel Temer assinou a lei que flexibilizou em definitivo a transmissão do noticiário entre 19h e 22h, para as emissoras privadas e educativas controladas pelo poder legislativo. Durante os seus 85 anos de história, A Voz do Brasil foi uma importante ferramenta de prestação de serviços para os brasileiros. Mas será que atualmente, com a inserção da tecnologia, o programa continua exercendo esse papel? Quem responde essa pergunta é o professor da UFC Nonato Lima:

“Se a gente for analisar a Voz do Brasil pelo aspecto do conteúdo, a gente vai ver o seguinte: é talvez um dos jornais de rádio, se não o mais democrático do país. Sabe por quê? Apesar da obrigação de veicular, que aí é um compromisso que o radiodifusor assume na hora que assina o contrato de outorga, apesar disso ele é um meio que, de fato, abre obrigatoriamente espaço para todos os três poderes e todas as correntes envolvidas nesses três poderes, cada um fazendo o seu próprio noticiário. Esses poderes têm o espaço diário e livre para dizer o que quiser.”

O noticiário completo, além de ser transmitido nas rádios, também é disponibilizado para download a partir das 20h15, no site da Rede Nacional de Rádio. Para ter acesso, é só clicar aqui.

Reportagem de Davi Holanda com orientação de Carolina Areal e Igor Vieira.

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