01/05/18

Reflexos da ditadura na educação

O Brasil vive atualmente uma série de retrocessos, como o caso do projeto de lei da escola sem partido. Esse projeto especifica os limites de atuação dos professores em sala de aula (Foto: Reprodução Internet)

É comum vermos por aí escolas com os nomes de presidentes da ditadura. No Brasil, quase mil instituições homenageiam os cinco generais que comandaram o regime militar.

Após 54 anos, a ditadura ainda deixa reflexos em várias áreas da sociedade. Para especialistas, a educação sofreu diversas mudanças no período.

As disciplinas de ciências humanas, como filosofia e sociologia, foram retiradas, naquela época, do currículo escolar obrigatório.

Além disso, a formação dos estudantes passou a ser mais tecnicista e as disciplinas de história e geografia foram condensadas numa única, denominada "estudos sociais".

A professora de história e da pós-graduação da Faculdade de Educação, Ciências e Letras do Sertão Central, Fátima Leitão Araújo, ressalta a romantização do regime retratado nos livros de história.

"Mas os livros didáticos ainda continuam trazendo assuntos de forma muito simplificadora, como algo feito exclusivamente pelo exército, e essa leitura é uma leitura romântica que acontece com frequência após os períodos traumáticos. Até mesmo porque é delicado falar com a criança e o adolescente sobre algo que muitos adultos participaram. Esse momento é muito silenciado, silenciamos e jogamos para debaixo do tapete esse período obscuro e traumático da história brasileira."

Ainda segundo a professora, o Brasil vive atualmente uma série de retrocessos e cita o projeto de lei da escola sem partido. Projeto esse que especifica os limites de atuação dos professores em sala de aula.

"Esse projeto embora não aprovado mas na prática ele está se efetivando por meio das perseguições aos professores que são taxados de pessoas que estão doutrinando os seus alunos tanto nas questões religiosas, políticas."

Para o professor Edmilson Júnior, do Departamento de História da Faculdade de Educação, Ciências e Letras do Sertão Central, a ditadura trouxe sérias consequências a educação.

"Como esse pensamento tecnocrático, essa dicotomia, esse maniqueísmo entre educação privada e pública, uma elitização das verbas da universidade pública, das vagas. Com a ditadura houve uma elitização, houve o vestibular classificatório onde quem passava eram apenas os primeiros lugares, não precisava só atingir o perfil. Então houve um modelo de universidade discriminatório onde foram criadas elites universitárias, você tinha que furar uma série de bloqueios."

O professor Edmilson defende ainda o debate para compreender a conjuntura do período que ocasionou a homenagem a militares nos nomes das escolas.

"Então quando você discute que um general foi homenageado você está discutindo que em um determinado momento houve um silêncio em relação a sociedade, a imposição de um autoritarismo, então eu acredito que se deva não trocar o nome, não basta isso, se for o caso de acontecer, e sim muito mais um debate. Quem foi aquele personagem? O que aconteceu na época dele? Por que ele foi homenageado? Por que hoje existem outros pontos de vista? Uma democratização da memória".

Os reflexos da ditadura militar na educação estão presentes ao longo dos anos, resquícios de um período que ainda afeta a formação de milhões de crianças e jovens.

Reportagem de Karoline Sousa com orientação de Carolina Areal.

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