O programa Rádio Debate, da Universitária FM 107.9, realizou, na última sexta-feira, 10 de outubro, uma edição especial com a participação exclusiva de crianças e adolescentes, estudantes da Escola Vila.. Intitulado “O que crianças e adolescentes pensam sobre o mundo”, o episódio, apresentado por Carolina Areal e transmitida ao vivo, surgiu de um questionamento conjunto entre a produção do programa acerca da importância da participação social e escuta de crianças e adolescentes.
Participaram da conversa os estudantes da Escola Vila, Davi Freitas (11 anos), Levi Tannús (10), Maria Brasil (8), Benki de Castro (14), Pedro Luz (13), Sophia Lima Ludemann (7) e Olívia Lima Verde (12). O episódio contou com a articulação da diretora pedagógica Morena Limaverde. A realização teve o objetivo de abrir espaço para debater temas que atravessam o cotidiano e o futuro da sociedade, como meio ambiente, cidadania, solidariedade, uso de telas, conflitos mundiais e paz.
Como informa a arte-educadora Joice Forte Gomes, coordenadora do Núcleo de Formação do Centro de Defesa da Criança e do Adolescente Ceará (CEDECA-CE), “o direito à participação está previsto no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e é fundamental para a construção de uma sociedade menos adultocêntrica”. Ela explica que escutar crianças e adolescentes nas decisões que afetam suas vidas é reconhecê-los como sujeitos de direitos e fortalecer a democracia participativa. Segundo Joice, incentivar o protagonismo desde cedo, com metodologias adequadas e espaços de diálogo, contribui para formar cidadãos críticos e conscientes. “Participação e proteção não são opostas, são complementares. O cuidado é a base que torna possível uma participação segura e autêntica”, acrescenta.
Ainda sobre a participação de crianças e adolescentes no programa, Joice afirma que isso possibilita a expressão de sentimentos, ideias e soluções sobre temas que os afetam diretamente. “O contato orientado com os meios de comunicação pode desenvolver a leitura crítica da mídia, aprendendo a identificar manipulações, fake news e discursos discriminatórios. Fortalece o papel da criança e do adolescente como produtora e não apenas consumidora de conteúdo”, reitera.
A coordenadora do CEDECA Ceará conclui que, em suma, iniciativas como essa formam cidadãos críticos, conscientes e comprometidos, capazes de compreender seus direitos, deveres e o impacto de suas ações na construção de uma sociedade mais justa e democrática. “Experiências assim devem ser reconhecidas, replicadas e estimuladas por parte do poder público”, conclui.
O programa também contou com a participação de ouvintes. Dentre eles, a psicopedagoga e fonoaudióloga Andréa Aires que destacou: “Temas muito importantes abordados com tanta convicção!”. Gracia Coelho também deixou seu recado: “São esperança para um futuro melhor. Estão dando um show de democracia”, disse em mensagem de texto enviada durante o programa.
Ao serem questionados sobre temas diversos ao longo do programa, como paz mundial, meio ambiente e uso de telas, os entrevistados deram soluções a serem seguidas pelos adultos, como diálogo, conscientização política e reciclagem. Com isso, surge a dúvida. Como incluir crianças e adolescentes na tomada de decisões em uma sociedade “adultocêntrica”?
Esse termo foi trazido em conversa com a pesquisadora do Laboratório de Pesquisa da relação Infância, Juventude e Mídia da UFC e cofundadora da RECRIA – Rede de Pesquisa em Comunicação, Infâncias e Adolescências, Brenda Lyra Guedes. Ela reflete que a sociedade foi pensada, e tornada real a partir de um ponto de vista adulto, contexto que não instiga a escuta ativa dos jovens em contextos de reflexão crítica sobre questões sociais.
Ainda segundo Brenda, que é Consultora UNESCO vinculada ao projeto "Crianças, Adolescentes e Telas - Guia sobre Usos de Dispositivos Digitais", a cooperação conjunta é uma solução que vislumbra a inclusão responsável dos jovens em soluções de problemas. “As pessoas crescem aprendendo que o valor delas está no adulto que elas vão se tornar. Como se sua principal contribuição de vida tivesse a ver com o que você vai poder ofertar lá naquele momento da sua fase mais produtiva na vida. É muito comum que se pergunte para as crianças o que elas querem ser quando elas crescerem, e isso é tão naturalizado que a gente não percebe a violência que existe nessa colocação, quando a criança tem as suas contribuições exatamente pelo momento que vivem, por conta da perspectiva que ela tem por ser criança. Do mesmo jeito o adolescente. E isso faz parte de contar com a mediação de adultos. As experiências de vida dos adultos somam com a intrepidez e os desafios que as crianças e adolescentes gostam de assumir e estão dispostos a assumir”, explica.
O programa com a participação de crianças e adolescentes da Escola Vila está disponível nas principais plataformas de áudio.