04/12/18

Você sabe o que faz um tradutor?

Um tradutor é o leitor minucioso de um texto em uma língua estrangeira, o intérprete atento e o retextualizador competente em uma segunda língua (Foto: Reprodução/Internet)

Certamente você já leu ou ouviu falar de clássicos da literatura internacional como Harry Potter, o Pequeno Príncipe e Orgulho e Preconceito. O que pouca gente sabe é que esses livros precisam ser traduzidos da língua de origem para o português. Mas, afinal como funciona o trabalho de um tradutor? O profissional responsável pela tradução atua com três funcionalidades básicas, sendo leitor, intérprete e escritor.

Segundo o professor e vice-coordenador da Pós Graduação em Estudos da Tradução da UFC, Walter Carlos Costa, um tradutor é o leitor minucioso de um texto em uma língua estrangeira, o intérprete atento e o retextualizador competente em uma segunda língua. “O trabalho do tradutor mantém algumas de suas características de sempre: o trabalho solitário, o interesse pelo estrangeiro, a pulsão de traduzir, ou seja, transportar a cultura do outro para a língua na qual está traduzindo”, afirma. Dentro da profissão, existem os tradutores juramentados, intérpretes, tradutores literários, tradutores simultâneos, e outros profissionais que se especializam em arte, direito e medicina, por exemplo.

Aspectos da profissão

Quanto à formação dos tradutores, é desejável a graduação em Letras ou curso afim, além disso, muito se fala sobre a especialização adicional a depender da área de atuação. Conhecer a cultura de outros países auxilia no processo da tradução de textos, como explica o professor Walter. “Os textos e discursos são produzidos no grande ambiente da cultura, a semiosfera. Traduzimos de uma semiosfera para outra, e quanto mais conhecermos uma e outra, mais eficaz será o texto traduzido em seu novo ambiente”.

O tradutor literário se diferencia pelo interesse na criação e recriação. Além do conhecimento de discursos estrangeiros, comum a todo tradutor, o tradutor literário costuma ter, em alguma medida, capacidade de recriar mundos, seres e sentimentos imaginários. A tradutora e jornalista, Ana Ban, sempre teve afinidade com a língua inglesa ainda no tempo de redação, onde ela começou a traduzir revistas e, depois, livros. “Tenho uns 150 livros traduzidos, com autores renomados como Virginia Woolf e John Steinbeck, best-sellers como Meg Cabot (O diário da princesa), quadrinhos (Corto Maltese), entre outros. Também traduzi para muitas revistas estrangeiras presentes no Brasil, como National Geographic, Rolling Stone, GQ, Elle, Claudia, Marie Claire”, afirma.

O tempo de tradução de uma obra como o Diário da Princesa leva em média três meses, mas em outros casos, o tempo varia dependendo do número de páginas e da dificuldade do assunto. “Quando é um livro que exige pesquisa, demora mais. Foi o caso, por exemplo, de O Evangelho de Judas, que continha um texto apócrifo da Bíblia. Precisei pesquisar bastante para encontrar os termos e a linguagem adequados”, relembra a tradutora.

A tradutora e jornalista Ana Ban traduziu mais de 150 obras. Na foto, ela aparece à direita, ao lado da autora Wendy Maas que escreveu o livro Jeremy Fink e o Segredo da Vida, um dos livros traduzidos por ela (Foto: Reprodução/Acervo Pessoal)

A tradutora e jornalista Ana Ban traduziu mais de 150 obras. Na foto, ela aparece à direita, ao lado da autora Wendy Maas que escreveu  Jeremy Fink e o Segredo da Vida, um dos livros traduzidos por Ana
(Foto: Reprodução/Acervo Pessoal)

Em outra perspectiva atua o tradutor juramentado. A professora do Curso de Letras-Inglês da UFC e tradutora juramentada, Diana Fortier, explica que para obter esse título o tradutor submete-se a um concurso público promovido pela Junta Comercial de cada Estado. Quando aprovado, a tradução do profissional passa a ser oficial em todo território nacional e ele cumpre uma tabela de valores estipulados pela Junta Comercial. “A rigor, o tradutor juramentado e o tradutor normal trabalham exatamente da mesma forma, mas o tradutor juramentado deve apresentar seu trabalho em papel timbrado, assinado e selado, e torna-se legalmente responsável pela tradução que realiza, ao contrário do tradutor normal”, explica a professora.

Por esse razão, a maior parte do trabalho do tradutor juramentado concentra-se em documentos oficiais, como certidões, procurações e diplomas. Diana Fortier acrescenta que é frequente surgirem demandas de documentos de natureza diversas, já que existe o mito de que o tradutor juramentado é mais competente e confiável que os tradutores normais, o que não é necessariamente verdade.

Dificuldades

Quanto as dificuldades em relação ao trabalho de tradutores, o professor Walter Costa acredita que há mais facilidades atualmente do que dificuldades para o tradutor literário. “A dificuldade maior é que a formação de um tradutor literário costuma exigir uma grande dedicação permanente depois de uma formação prévia envolvendo diferentes habilidades de leitura, interpretação e retextualização”, destaca.

As principais dificuldades enfrentadas pelo tradutor envolvem limitações de conhecimento linguístico e cultural, problemas relacionados ao uso das novas tecnologias de auxílio computacional à tradução e dificuldades de captação de um volume suficiente de trabalho (Foto: Reprodução/Internet)

As principais dificuldades enfrentadas pelo tradutor envolvem limitações de conhecimento linguístico e cultural, problemas relacionados ao uso das novas tecnologias de auxílio computacional à tradução e dificuldades de captação de um volume suficiente de trabalho (Foto: Reprodução/Internet)

Para a professora Diana Fortier, a tradução é uma atividade desafiadora, embora ofereça grandes oportunidades de crescimento pessoal e satisfação profissional. “As principais dificuldades enfrentadas pelo tradutor envolvem limitações de conhecimento linguístico e cultural, problemas relacionados ao uso das novas tecnologias de auxílio computacional à tradução, dificuldades de captação de um volume suficiente de trabalho, bem como problemas de precificação, cobrança e recebimento”, aponta.

Para a tradutora Ana Ban, o pagamento baixo, os prazos curtos, o mercado com as editoras diminuindo o número de lançamentos, as grandes livrarias declarando falência e a incerteza do que o novo governo fará com a compra de livros, que já vem diminuindo nos últimos anos, são as principais dificuldades. “Continuo fazendo as traduções para o Brasil, mas nos últimos anos não têm aparecido quase nada — neste ano, acho que só fiz uns 2, 3 livros pequenos. Quando eu vim estudar nos EUA, queria mudar um pouco de ramo pois já sentia que as oportunidades de tradução estavam diminuindo, ainda assim, eu fico feliz de ainda poder fazer traduções, pois esta é a minha paixão”, declara.

Reportagem de Karoline Sousa com orientação de Carolina Areal

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