22/04/19

Decolonialidade é tema de grupo de estudos na UFC

O grupo de estudos decoloniais trabalha temas como ancestralidade e cultura em seus encontros. (Foto: Obra 'Between the Two my Heart is Balanced', 1991, de Lubaina Himid/Reprodução)

Você sabe o que são os estudos decoloniais?

O PetCom, Programa de Educação Tutorial do Curso de Comunicação Social da Universidade Federal do Ceará, lançou em março deste ano um grupo de estudos sobre decolonialidade, em parceria com o Laboratório de Arte Contemporânea da UFC. Com encontros quinzenais abertos ao público, o grupo discute temas relacionados à arte, conhecimento e comunicação, através do estudo de teóricas e teóricos de origem latinoamericana e africana.

Tema desconhecido para muitos, o pensamento decolonial busca problematizar a colonialidade na produção de conhecimento. Rodrigo Lopes, membro do Pet Comunicação e coordenador do Laboratório de Arte Contemporânea, explica a importância da discussão:

“Ah, mas porque que esses temas foram escolhidos, né?”, porque a universidade foi historicamente construída para ser um espaço das elites brancas do país, e nesse cenário, ocupar esse espaço com corpos negros é urgente e político também, assim como o primeiro passo para mudar isso é o quê? Reconhecer que as desigualdades do país nascem sim de um passado de colonização, escravidão, mas principalmente de muita resistência."

A iniciativa do grupo de estudos nasceu de uma necessidade, percebida pelos estudantes, de se discutir temas como racismo estrutural, classe, sexualidade e gênero dentro dos espaços da universidade. É o que explica Natali Carvalho, estudante de Jornalismo na UFC e uma das organizadoras do grupo:

"O que motivou a formação desse grupo de estudos foi a necessidade que o Pet percebeu sobre discussões desse tipo, discussões decoloniais, discussões sobre negritude, discussões sobre pautas indígenas e sobre como a faculdade e a academia no geral não comporta esses assuntos nem autores que não sejam simplesmente homens brancos e héteros. Tanto que um dos pontos principais que o grupo de estudos aborda é essa questão do desacademicismo. A gente traz autores que não estão enquadrados nesse ciclo de branquitude e heteronormatividade."

A participação no grupo de estudos é aberta ao público. (Foto: Obra 'Composição n. 2', 1971, de Abdias Nascimento/Reprodução)

A participação no grupo de estudos é aberta ao público. (Foto: Obra 'Composição n. 2', 1971, de Abdias Nascimento/Reprodução)

O grupo de estudos reúne pessoas de diferentes idades e formações, propondo-se a ser um espaço baseado na diversidade, como destaca Rodrigo Lopes:

"O grupo é composto por pessoas de diferentes universidades, de fora dela e também de vários cursos. Lá nos encontros, a maioria das pessoas que aparecem são negras. Isso é muito bonito de ver, sabe? Porque mesmo com tantos corpos diferentes, o que eu mais ouço no grupo é que faltam discussões antirracistas nos espaços onde essas pessoas estão, e isso é um sintoma do que acontece em sala de aula. A maioria dos textos que nossos professores utilizam em sala de aula são de homens brancos e europeus. É como se fosse uma perspectiva universal e o branco, para além de ser uma cor, tenta ser isso, o único."

Apesar da importância da iniciativa, Rodrigo Lopes ressalta que ela não é suficiente para acabar com a problemática da desigualdade na produção de conhecimento:

"O grupo de estudos dentro da universidade, ele não resolve esse problema. Ele é só uma ação dentro de várias outras que estão acontecendo nesse momento dentro da universidade e fora dela, para que seja promovida essa decolonização do conhecimento, ou seja, que outras formas de pensar e de sentir e de entender o mundo sejam também reconhecidas como válidas."

Para a estudante Natali Carvalho, as discussões sobre decolonização têm lhe rendido uma experiência de aprendizado e identificação:

"No grupo de estudos eu aprendi muito porque vão muitas pessoas negras, eu me sinto muito abraçada, principalmente porque o processo de aceitação do ser negro é um processo difícil, é um processo demorado entre você sair do “eu sou pardo”, que é um quase branco, para você se identificar como “eu sou negro, eu sou preto”. E eu acho que o grupo de estudos, ele abraça, ele convida, ele trabalha o afeto. Acho que esse é o principal canto e sentimento que o grupo me traz: é que ele trabalha o afeto. O afeto como ser humano."

Os encontros do grupo de estudos decoloniais são quinzenais e a participação é aberta ao público. Mais informações podem ser encontradas na fanpage do Pet Comunicação UFC no Facebook.

Caroline Rocha, com orientação de Thaís Aragão e Igor Vieira

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