15/05/20

Artistas buscam alternativas de renda durante pandemia

A artista circense Sâmia Bittencourt, 45 anos, já teve 11 apresentações canceladas por conta da pandemia da Covid-19 (Foto: Arquivo Pessoal)

Para se prevenir do novo coronavírus, o mundo se fechou dentro de casa. Quem está cumprindo as regras de distanciamento social tem que encontrar formas para ocupar a mente e deixar de lado as notícias ruins. Filmes, novelas e shows a distância são algumas alternativas que ajudam a superar este momento.

Neste período, a produção artística se mostrou importante. O cenário da pandemia chamou atenção para o fato de que a arte não se faz sozinha. Longe do público, artistas de vários segmentos têm encontrado novas maneiras de divulgar suas produções. Os artistas que trabalham de forma independente buscam, além disso, lidar com a ausência de sua fonte de renda.

É o caso da produtora de eventos e artesã Simone Araújo. Como a ordem é manter distância, os eventos pararam de acontecer e ela se viu sem renda. Como alternativa, Simone começou a vender máscaras produzidas por ela, além de pastéis e cestas de presente. Simone Araújo relata que esse novo caminho não é tão rentável quanto a produção de eventos:

“Esta pandemia deixou todo mundo fora do ar, seja um profissional liberal, seja um profissional de uma repartição, ou outra coisa. Mas quem está sofrendo mais com esta pandemia são as pessoas autônomas, que somos nós artistas.”

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Simone Araújo, de 53 anos, afirma que a renda caiu muito com a falta de eventos (Foto: Arquivo Pessoal)

Para ajudar essa categoria, a Secretaria da Cultura do Estado do Ceará (Secult) lançou, no fim de março, o Edital Festival Cultura Dendicasa. O objetivo é selecionar artistas cearenses para constituir uma programação artística digital. Como incentivo, os selecionados vão receber uma ajuda financeira. Uma dessas pessoas selecionadas é a artista de circo Sâmia Bittencourt. Ela é diretora do Circo Lúdico Experimental e conta que, desde o início da pandemia, teve onze apresentações canceladas ou remarcadas. Isso afetou diretamente sua renda e ela tem se mantido com o auxílio emergencial do Governo Federal e com o Edital Dendicasa.

No contexto atual, alguns artistas têm realizado transmissões ao vivo através das redes sociais e outras plataformas. Sâmia Bittencourt destaca que são poucos aqueles que têm o equipamento necessário para produzir uma transmissão de qualidade:

O grande problema é não ter o equipamento necessário para gravar vídeo, edição de vídeo, pra dar uma qualidade para o seu trabalho. Tudo isso é o grande complicador. Mas é muito bacana também a gente entender que é um outro momento e entender nossa arte de uma outra forma. E eu acho que é isso, quando tudo isso passar, a gente vai estar diferente e essa outra forma de lidar com a arte vai ser bem-vinda sim. Tem que ser. Não vai voltar ao que era, é daqui pra mais.”

Paulo Renato Costa, 46 anos, é músico de Fortaleza. Ele faz apresentações nas suas redes sociais e confidencia que "às vezes os amigos se sensibilizam e que vão lá e põem um dinheiro na [sua] conta. A gente tá se reinventando" (Foto: Arquivo Pessoal)

Paulo Renato Costa, 46 anos, é músico de Fortaleza. Ele faz apresentações nas suas redes sociais e confidencia que "às vezes, os amigos se sensibilizam e põem um dinheiro na [sua] conta" (Foto: Arquivo Pessoal)

O músico Paulo Renato é um desses artistas que tem encontrado nas transmissões ao vivo uma forma de continuar sua arte. Ele montou seu próprio estúdio em casa para realizar shows virtuais. Financeiramente, a vida de Paulo Renato não mudou muito. Ele está utilizando finanças que reservou durante um longo período de trabalho, além de eventualmente receber doações de espectadores de seus shows. O músico optou por não solicitar o auxílio emergencial e nem participar do Edital Dendicasa. Paulo Renato conta que preferiu deixar o espaço para outros candidatos:

Eu consegui, ao longo de um bom período de trabalho, fazer uma reserva que está me segurando. Mas você sabe como a fonte seca, né? Eu não sei como é que vai ser futuramente, se essa quarentena perdurar por mais tempo. Mas, por enquanto, eu estou seguro. Mas eu penso muito naqueles que realmente precisam, que não fizeram essa reserva, que não tiveram cuidado em fazer reserva, até por questões de necessidades.

A coreógrafa e arteterapeuta Andréa Bardawill acredita que "é muito importante, talvez, diferenciar e pensar novas estratégias de permitir o acesso, de fazer circular mais recursos dentro do âmbito da cultura, já partindo do princípio que nem todas as linguagens se adéquam ou se adaptam muito facilmente à virtualidade" (Foto: Arquivo Pessoal)

A coreógrafa e arteterapeuta Andréa Bardawill acredita que "é muito importante, talvez, diferenciar e pensar novas estratégias de permitir o acesso, já partindo do princípio que nem todas as linguagens se adequam ou se adaptam à virtualidade" (Foto: Arquivo Pessoal)

Para a coreógrafa e arteterapeuta Andréa Bardawill, dançar tem servido como fonte de tranquilidade diante das mudanças recentes. Além dos trabalhos artísticos suspensos, os atendimentos terapêuticos tiveram que ser levados para o meio digital, o que tem sido um desafio para Andréa, uma vez que a arteterapia requer presença física.

Andréa sinaliza a importância de mais incentivos financeiros por parte do governo, além da necessidade de uma atenção específica para as artes cênicas, que têm dificuldade em se adaptar ao meio virtual:

“Eu acho que é muito importante, talvez, diferenciar e pensar novas estratégias de permitir o acesso, de fazer circular mais recursos dentro do âmbito da cultura, já partindo do princípio que nem todas as linguagens se adequam ou se adaptam muito facilmente à virtualidade. Como é que as artes da presença, por exemplo, podem participar e propor, ter acesso a esses recursos de uma forma em que isso não signifique alterar tanto os princípios dos trabalhos? Acho que esse é um ponto interessante pra pensar.”

Desde março, diversos artistas têm organizado eventos para arrecadar doações para outros artistas. Nomes como Alceu Valença, Pitty, Zeca Baleiro e Luedji Luna preparam shows avulsos ou integraram festivais na internet com o mesmo objetivo: ajudar seus colegas de profissão.

Reportagem de Mateus Sales com orientação de Carolina Areal

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