22/08/20

Uma cidade e um tempo: Casa da Família Jereissati

A antiga casa de praia da família Jereissati fica localizada em frente ao Espigão da Av.Rui Barbosa (Foto: Adriano Accioly/Nosso Praça Urgente)

Uma casa azul, em frente ao espigão da avenida Rui Barbosa, é uma das raridades arquitetônicas de Fortaleza e que, agora, tem pedido de preservação protocolado. A residência foi casa de praia da família Jereissati e resistiu à especulação imobiliária da região.

Se as paredes daquela casa falassem, contariam de uma cidade-menina que descobria o mar. Construída no encontro das atuais avenidas Beira-Mar e Rui Barbosa, a casa azul abre as janelas para a Praia de Iracema desde a década de 1930. E abriga memórias de uma Capital que começou a apreciar o banho de mar em 1925, quando as famílias mais ricas iniciaram a construção de bangalôs e de casas de veraneio.

A praia, que era do Peixe, dos pescadores e dos coqueirais, mudou, então, de nome, de donos e de cenário. Quem conta essa história é o arquiteto Romeu Duarte, professor da Universidade Federal do Ceará:

"Tinha uma colonista social chamada Adília de Albuquerque, que era pernambucana, e ela decidiu por conta própria rebatizar a Praia do Peixe, como era conhecida a Praia de Iracema, como de Praia de Iracema. Ela fez todo um cenário para dizer que o nome não era mais a praia das garoupas, com suas vísceras expostas, era para ser o local do idílio, do romance."

Além de ser vizinha do Centro da Cidade, a Praia de Iracema contava com uma das poucas linhas de bonde da época. Era um privilégio! E foi entre esses privilégios que a família do senador Tasso Jereissati construiu uma casa de veraneio, nos anos 1930. A residência pertenceu aos avós paternos de Tasso, Maria José e Aziz Kalil, pais do senador Carlos Jereissati, um importante político local, contemporâneo dos presidentes Getúlio Vargas e Juscelino Kubistchek.

A construção da década de 1930 é ocupada atualmente pelo restaurante Boteco Praia (Foto: Pinterest/Reprodução)

A construção da década de 1930 é ocupada atualmente pelo restaurante Boteco Praia (Foto: Pinterest/Reprodução)

Se as paredes daquela casa falassem, contariam também de um tradicional clã político do Estado. É uma casa desenhada com capricho, destaca o arquiteto Romeu Duarte:

"Ela guarda muito as características de pelo menos duas linguagens de arquitetura que a gente pode colocar no âmbito do ecletismo arquitetônico, que é o Misson Style, chamado estilo missioneiro, que é inspirado nas antigas missões jesuíticas espanholas que existiam na Califórnia e que pelo cinema acabou se transformando uma coqueluche entre as mansões das famílias ricas do Brasil. Essa casa também da família do senador Tasso Jereissati, ela tem também uma arcaria e também alguns toques mouriscos, de coluninhas pequenas, retorcidas".

Exemplar remanescente entre os bangalôs que desapareceram com a construção da Beira-Mar, nos anos 1960, a casa pode ser tombada, agora, como patrimônio de Fortaleza. A partir de uma solicitação do grupo Nossa Praça Urgente, o Ministério Público do Ceará instaurou um Inquérito Civil Público, para obter mais informações sobre o bem.

O MP Estadual já encaminhou ofícios a diversos órgãos responsáveis pela análise do pedido de tombamento e tenta evitar a demolição da casa ou qualquer interferência nas características arquitetônicas. O promotor de Justiça José Francisco de Oliveira Filho informa que o MP-Ceará vai acompanhar o caso:

"Iremos dar prosseguimento a todo o procedimento até vermos a eficiente medida adotada com o definitivo tombamento desse imóvel, que verdadeiramente é um prédio que faz parte do nosso patrimônio histórico e cultural da nossa cidade de Fortaleza." 

O pedido de preservação da antiga casa é uma maneira de guardar a poesia de uma Cidade que se apaixonava pelo mar. E, para os arquitetos e historiadores, sempre que um bem é tombado, existe ainda a possibilidade de convivência entre dois tempos, o passado e o presente.

Reportagem de Ana Mary Cavalcante

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