05/11/18

O Fascismo e suas características

O termo fascismo vem do italiano fascio e significa feixe. Na Roma Antiga, o fascio era um machado revestido por varas de madeira e representava que o feixe era mais difícil de ser quebrado do que uma única vara (Ilustração: Paula Cardoso)

De acordo com um levantamento realizado pelo Google Trends,  a curiosidade dos brasileiros pelo termo Fascismo nunca foi tão grande. As buscas pela palavra atingiram o seu máximo entre os dias 7 e 13 de outubro, especificamente no domingo do primeiro turno das Eleições 2018. O volume de buscas bateu recorde e foi dez vezes superior à média de pesquisas pela palavra desde 2004, quando o Google começou a medir o histórico de consultas. Desde o fim de setembro, a procura pela palavra é superior a Comunismo, Democracia, Nazismo e Socialismo. Além disso, outros assuntos e pesquisas relacionadas foram Neofascismo e Ditadura Militar, por exemplo.

O termo Fascismo vem do italiano fascio e significa feixe. Na Roma Antiga, o fascio era um machado revestido por varas de madeira e representava que o feixe era mais difícil de ser quebrado do que uma única vara. O professor italiano do Departamento de Sociologia da Universidade Federal do Ceará, Fabio Gentile, explica ainda que o feixe representaria a presença de vários indivíduos de diferentes classes sociais, o que faria do Fascismo transclassista por natureza com o intuito de organizar e mobilizar as massas. Compreender historicamente o que representa esse regime além do significado de sua etimologia é essencial para compreender uma onda que tem voltado e se espalhado por vários países ao redor do mundo.

Historicamente

Com origem na Itália, mais especificamente em Milão, o movimento social, político e cultural do Fascismo foi criado por Benito Mussolini e se espalha por vários países da Europa, como na Alemanha e o movimento nazista de Adolf Hitler. A professora do Departamento de História da Universidade Regional do Cariri, Sônia Meneses, explica que a sua emergência nesses países se associa aos efeitos da Primeira Guerra Mundial. “As nações europeias que viveram a crise de suas burguesias, os graves problemas econômicos, o exacerbamento do nacionalismo e a profunda rejeição às ideias socialistas, posteriormente, vai assumir também vieses antissemitas e racistas”, afirma Sônia.

O professor italiano Fabio Gentile aponta os diversos grupos de militantes que participaram da guerra, sindicalistas nacionalistas, intelectuais de diferentes correntes ligadas ao nacionalismo político e artístico que se aglutinaram em torno da figura de Benito Mussolini. “Uma das causas do fascismo foi que a Itália ganhou a guerra, mas não recebeu na hora de redefinir o novo mapa geopolítico da Europa, após a guerra, os territórios que estava querendo. Isso gerou muita frustração no país e o fascismo aproveitou desta conjuntura trágica”, relembra Fábio.

Com origem na Itália, mais especificamente em Milão, o movimento social, político e cultural do Fascismo foi criado por Benito Mussolini e se espalha por vários países da Europa, como na Alemanha e o movimento nazista de Adolf Hitler (Foto: Reprodução/Internet

Com origem na Itália, mais especificamente em Milão, o movimento social, político e cultural do Fascismo foi criado por Benito Mussolini e se espalha por vários países da Europa, como na Alemanha e o movimento nazista de Adolf Hitler (Foto: Reprodução/Internet)

Há um debate bem amplo sobre as características do Fascismo entre os especialistas. O professor de história de escolas particulares de Fortaleza, Fábio Martins, afirma que a ideologia totalitarista e o forte controle do estado sobre a vida das pessoas, como dizia a conhecida frase de Mussolini “tudo no Estado, nada fora do Estado, nada contra o Estado”, eram características presentes no regime. “A eliminação das oposições, a ideia salvacionista do estado controlador que não aceita oposição externa e interna, o culto a um líder carismático que utilizava fortemente a propaganda para a construção da imagem eram pontos do Fascismo”, explica Fábio Martins.

Já o professor Fabio Gentile explica conceitos importantes como a diferenciação do totalitarismo e o autoritarismo nos regimes fascista e nazista. O fascismo possui uma tendência totalitarista com a incorporação da esfera do privado na esfera do estado, já o nazismo apresenta uma dimensão totalitária mais radical ainda, uma vez que surgiu em torno de um projeto  de estado racial voltado para o extermínio de um povo. “Diria que de forma geral o Fascismo se caracteriza por um partido único de massa, uma ideologia oficial, um capilar sistema de terror policial, propaganda e censura. A partir  do surgimento do Fascismo na Itália podemos falar de uma onda autoritária, de acordo com estudos recentes, que se espalhou rapidamente na Europa e na América Latina”, destaca.

Projeções do fascismo ao redor do mundo

O professor Fábio Martins acredita que os governos ao redor do mundo vivem uma onda crescente de características semelhantes ao Fascismo como na Turquia, França e na própria América como os Estados Unidos e o Brasil. “Esses países passaram por crises econômicas em 2008, e cada país viveu uma crise interna e passou a desacreditar no debate democrático. Os problemas com a corrupção levam a essa descrença com o meio político e ao crescimento do fascismo”, afirma.

A professora Sônia Meneses acredita que a superação do fascismo é um processo difícil, sobretudo nos países das experiências mais radicais do movimento, como a Alemanha e a Itália. Ela cita um insistente trabalho de memória entre a população para que os efeitos daqueles governos não sejam esquecidos. “Um dos caminhos escolhidos em ambos, mas sobretudo, na Alemanha foi o enfrentamento dos horrores do passado. Nos primeiros anos, pós-segunda guerra, houve a institucionalização de tribunais para apuração dos graves crimes de lesa humanidade perpetrados no período, a punição de nazistas, a criminalização de tais práticas foram algumas das ações que esses países tiveram que implementar”, relembra.

O professor Fábio Martins acredita que enquanto houver oposição, a democracia existirá e movimentos como o fascismo podem ser evitados (Foto: Reprodução/Internet)

O professor Fábio Martins acredita que enquanto houver oposição, a democracia existirá e movimentos como o fascismo podem ser evitados (Foto: Reprodução/Internet)

O professor da UFC Fabio Gentile reconhece que vivemos conjunturas diferentes quando questionado sobre a volta de regimes como o Fascismo, porém ele acredita que há  elementos de aproximação entre os movimentos fascistas e alguns movimentos autoritários das últimas décadas. “Para tentar definir fenômenos atuais eu utilizaria a categoria de Neofascismo e Autoritarismo. Fica claro que o Fascismo marcou qualquer tipologia autoritária posterior, quando pensamos nas ditaduras latino-americanas fica impossível caracterizar uma ditadura militar ou um movimento Neofascista sem voltar ao Fascismo”, explica.

Resistência

O professor Fábio Martins acredita que enquanto houver oposição, a democracia existirá e movimentos como o Fascismo podem ser evitados. “Nossa democracia é jovem, mas nós devemos lutar para manter esse regime democrático e é preciso chamar para o diálogo. O Brasil é permeado de golpes e mesmo assim jamais devemos nos render”, ressalta. Já o professor Fabio Gentile defende as formas de luta e mobilização como maneiras de evitar a violação dos direitos fundamentais. “Fortalecer uma frente democrática junto com os partidos de oposição, os sindicatos, todas as instituições, associações e organizações que têm a democracia como valor fundamental”, afirma.

A professora Sônia Meneses cita a situação em que vive o Brasil atualmente com a presença de discursos preocupantes no âmbito dos direitos humanos e mesmo constitucionais, a violência praticada contras populações negras, mulheres, LGBT e até mesmo a criminalização dos movimentos sociais. “A nós cidadãos cabe o combate cotidiano dessas ideias em escolas, grupos familiares e bairros porque as experiências históricas nos mostram que foi exatamente aí onde essas ideias mais proliferaram. Os governos fascistas não governaram sem o apoio da população, assim é preciso manter a vigilância constante de nossa constituição e dos direitos nela assegurados”, ressalta.

Reportagem de Karoline Sousa com orientação de Carolina Areal

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