10/06/20

De gamer a atleta: A ascensão dos e-Sports

A indústria dos jogos eletrônicos já movimenta milhões de dólares no mundo. O Brasil segue como o terceiro maior público de e-sports, segundo um estudo realizado pela consultoria Newzoo (Foto: Reprodução)

A década de 1970 marcou a ascensão da popularidade e do desenvolvimento dos videogames. Desde lá, os jogos eletrônicos conquistaram gerações e uma legião de fãs, principalmente o público jovem. Mas se antes os videogames eram vistos apenas como uma descontração, hoje a paixão por jogos eletrônicos se tornou mais que um hobby: virou profissão.

Os e-Sports, ou ciberesportes, são as competições profissionais de jogos eletrônicos que vem se popularizando nos últimos anos. Porém, o reconhecimento da modalidade como um esporte oficial ainda não é absoluto. De acordo com Eduardo Mota, coordenador do curso diurno de Educação Física da Universidade Federal do Ceará (UFC), esporte é caracterizado como uma prática físico-motora, que possua uma entidade de organização com regras universais e que, principalmente, tenha a competição em formato de jogo.

Eduardo Mota comenta que os jogos eletrônicos tem muitas semelhanças com outras modalidades esportivas, como o xadrez e o automobilismo. Os gamers, como são chamados os amantes de videogame, exercitam a cognição enquanto jogam e aprimoram a coordenação motora fina, que é a capacidade de usar os pequenos músculos em movimentos delicados. Apesar disso, o professor da UFC alerta para os perigos do exagero, em especial agora durante o período do distanciamento social:

“Em período de pandemia com certeza essa é uma ótima opção para ocupar esse tempo livre, mas o grande problema é a questão do excesso. Por que aí eles realmente podem prejudicar o desenvolvimento, principalmente de crianças e adolescentes. No caso dos adultos também dificultar o seu dia a dia, o seu desenvolvimento humano de forma geral. Além das lesões que existem por esforços repetitivos quando essa prática é realizada de forma excessiva”. 

Caio “PAIB0LA” Girão é jogador profissional de PUBG desde 2018 (Foto: Acervo Pessoal)

Caio “PAIB0LA” Girão é jogador profissional de PUBG desde 2018 (Foto: Acervo Pessoal)

Para Caio Girão, conhecido na comunidade dos games como "PAIB0LA", a paixão surgiu bem cedo, por volta dos 4 anos de idade. Na infância e adolescência, o jovem foi um frequentador assíduo de fliperamas e lan houses com os amigos. A brincadeira se estendeu até os 16 anos, quando Caio passou de jogador casual para organizador de campeonatos de videogame em Fortaleza. Foi nos bastidores das competições que ele percebeu que estava do lado errado do cenário. Em 2018, ele resolveu deixar a organização de campeonatos para se dedicar aos treinos como um jogador profissional.

Caio mantém uma rotina de treinos intensa, mas sem esquecer de reservar tempo para os afazeres pessoais, como os estudos da faculdade. Ele e sua equipe praticam por volta de 14 horas diariamente. Os treinamentos envolvem principalmente os estudos dos times, o desenvolvimento da coordenação motora, estratégias e também o bem estar psicológico dos jogadores.  Caio Girão ressalta o grande público consumidor de videogames no nordeste, mas critica a falta de investimento em atletas locais:

“Eu acho que o que falta para o Nordeste é mais investimento. Se empresas voltados para o entretenimento se unirem a gente pode fazer algo bacana. O Brasil, por ter o território maior, isso torna mais dificultoso [para ir em competições] por que o jogador vai ter que pegar um avião, pegar um ônibus para ir para São Paulo que, no caso, é a referência do esporte eletrônico hoje no Brasil. Mas eu acredito que a gente tem muito talento. A gente tem muitos jogadores que já estão com destaque e são do Nordeste, são de Fortaleza. Tem essa capacidade, tem esse público e gera conteúdo, gera a profissão, gera esse mercado que hoje a gente tem”. 

Foram nas festinhas de aniversário durante a infância que Caio teve o primeiro contato com os videogames (Foto: Acervo pessoal)

Foram nas festinhas de aniversário durante a infância que Caio teve o primeiro contato com os videogames (Foto: Acervo pessoal)

Tentando justamente tornar a participação em campeonatos acessível para a juventude, a Prefeitura de Fortaleza promoveu a I Copa Rede Cuca de League of Legend, dedicada ao jogo conhecido entre os adeptos como LOL. A ideia surgiu em janeiro de 2020. Os preparativos estavam sendo feitos para um evento presencial. No entanto, por conta da pandemia do novo coronavírus, o campeonato foi realizado de forma virtual entre os dias 29 e 31 de maio.

Segundo Zoraia Nunes, coordenadora de Formação e Tecnologia da Rede Cuca, o retorno da comunidade foi impressionante. Todas as 20 vagas de equipes foram preenchidas logo no primeiro dia de inscrição. O sucesso foi tanto, que a comunidade já requisitou mais campeonatos, até de outros jogos. Para Zoraia Nunes, o evento é uma chance de incentivar a prática de e-Sports no Ceará.

“A gente entende que a Rede Cuca, que tem esse papel inovador, que tem esse papel social, que tem esse papel de acolher novidades, inovações e dialogar com jovens. A gente entende que essa primeira copa foi o pontapé inicial, foi o start, para a gente começar a pensar em ter equipes disputando aí fora. Isso vai incentivar, sem dúvida nenhuma, os jovens a formar equipes, a treinar mais. E quando a gente começa a discutir uma temática, quando a gente começa a falar sobre um fenômeno social o caminho que se traça é dele se sedimentar”. 

A final da I Copa de League of Legends da Rede Cuca foi transmitida ao vivo pelo canal Juv.Tv (Foto: Reprodução)

A final da I Copa de League of Legends da Rede Cuca foi transmitida ao vivo pelo canal Juv.Tv (Foto: Reprodução)

Segundo especialistas esportivos, a modalidade dos e-Sports é promissora. Um levantamento realizado pelo Instituto Newzoo, referência na análise de videogames, mostra que as competições profissionais de jogos eletrônicos tem previsão de faturamento  em 2020 de cerca de 1 bilhão de dólares. Essa é uma nova categoria que surge para uma geração que cresceu na era digital.

Reportagem de Lara Vieira com orientação de Carolina Areal.

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