14/10/19

Como são escolhidos os vencedores do Prêmio Nobel?

O Primeiro-ministro da Etiópia Abiy Ahmed Ali foi o ganhador do Prêmio Nobel da Paz em 2019 (Foto: Mahmoud Hjaj/Anadolu Agency via Getty Images)

Em outubro de 2019, foram anunciados os vencedores do Prêmio Nobel. Dividida em cinco categorias, a premiação é um reconhecimento mundial idealizado pelo químico e inventor sueco Alfred Nobel. Parte de sua fortuna foi destinada à criação do prêmio após sua morte, em 1896. Este ano, os vencedores foram: a polonesa Olga Tokarczuk e o austríaco Peter Handke, na categoria Literatura; o canadense James Peebles e os suíços Michel Mayor e Didier Queloz na Física; os norte-americanos William Kaelin e Gregg Semenza, e o britânico Peter Ratcliffe na Medicina; o norte-americano John B. Goodenough, o britânico-americano M. Stanley Wittingham e o japonês Akira Yoshino em Química; a norte-americana Esther Duflo, o indiano Abhijit Banerjee e o norte-americano Michael Kremer em Economia; e o Primeiro-ministro da Etiópia Abiy Ahmed Ali, na categoria da Paz.

Os vencedores recebem um diploma, uma medalha de ouro de 18 quilates e uma quantia em dinheiro - aproximadamente 1 milhão de dólares - como premiação por seus feitos em prol da humanidade. José Eymard Pittella, professor aposentado da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais, explica como ocorre o processo de escolha dos indicados ao Prêmio Nobel:

"O Comitê Nobel faz uma lista de pessoas que são experts em assuntos de Física, Química, Biologia, Medicina, Literatura etc., convidando para eles indicarem alguém para a premiação do Nobel do ano. Quem recebeu premiação Nobel anterior dessas áreas pode também indicar algumas pessoas e, às vezes, personalidades, celebridades científicas, vamos dizer assim. Então esses nomeadores escolhem, fazem uma lista de uma, duas ou três pessoas - pode haver mais de uma indicação por cada nomeador. Essas indicações são encaminhadas ao Comitê Nobel, que é instalado em Estocolmo. Tem um Comitê Nobel para cada área: Física, Química, Medicina, Literatura etc., e esse Comitê Nobel distribui essas nomeações para pareceristas escolhidos a dedo para fazer uma análise da contribuição dos indicados."

Olga Tokarczuk foi agraciada com o Prêmio Nobel de Literatura em 2019. A escritora polonesa dividiu o prêmio com o austríaco Peter Handke (Foto: Thilo Schmuelgen/Reuters)

Excepcionalmente este ano, dois Prêmios Nobel de Literatura foram entregues. Olga Tokarczuk (foto) venceu por 2018 e Peter Handke por 2019 (Foto: Thilo Schmuelgen/Reuters)

Após a análise dos pareceristas, o Comitê Nobel realiza uma triagem dos nomes indicados, selecionando aqueles considerados mais importantes. A lista final de indicados é então analisada por um grupo de votantes ligados a diferentes instituições, dependendo da categoria da premiação. Essa votação decide os vencedores de cada área. No caso do prêmio Nobel de Literatura, a escolha fica por conta da Academia Sueca, formada por 18 membros. Já no caso dos Prêmios Nobel em Física, Química e Ciências Econômicas, a escolha é realizada pela Academia Real das Ciências da Suécia. O professor aposentado José Eymard Pitella destaca que esse processo de seleção sofre influência de várias questões:

"É lógico que tem de haver sempre o mérito do candidato, do indicado, vamos dizer assim, mas existem muitas conexões. É a parte política, cultural, histórica. A maioria das entidades evidentemente vai dos países europeus, da Europa Ocidental. Os Estados Unidos ainda predominam, embora a China também esteja crescendo, então não é uma distribuição equitativa. São instituições que têm mais poder de publicação, que têm mais prestígio. Vão ter mais pessoas indicadas provenientes dessas instituições e desses países que competem melhor no mundo científico."

Além do maior destaque de países desenvolvidos na premiação, a maioria dos vencedores do Nobel são homens. Ao todo, 866 prêmios foram concedidos a homens, 16 vezes mais do que o número de prêmios entregue a mulheres, 53. Marinês Cordeiro, professora do Departamento de Física da Universidade Federal de Santa Catarina, relaciona esse fato à ideia ainda forte de que a ciência é considerada uma área masculina. Ela cita o Nobel de Física como exemplo do número pequeno de mulheres premiadas:

"Quando a gente vê um Prêmio Nobel e aí a notícia - como foi no ano passado - é que já fazem 60, 70 anos desde a última mulher que tinha sido premiada, Maria Goeppert-Mayer. A impressão que se passa é que essas mulheres têm que ser uma exceção à regra. Porque foram três em cento e poucos anos e demorou 60 anos para que outra fosse premiada. É assustador. Porque o que se pensa é 'bom, essa ciência é, sim, masculina'. Esse ano já não teve nenhuma mulher premiada, foram três homens. Então, se a gente não associa as premiações de mais mulheres a mais exemplos no dia a dia de que ciência é feita por mulher, sim, e de que as mulheres são igualmente competentes, que elas são líderes de pesquisa, de que elas revolucionam e, mais ainda, dos motivos porque muitas mulheres não estão sendo premiadas, aí sim eu acho que a gente faz uma maior diferença."

O brasileiro Cristian Wittmann é um dos membros do Comitê Gestor da Campanha Internacional para a Abolição das Armas Nucleares (ICAN), que venceu o Prêmio Nobel da Paz em 2017 (Foto: Arquivo Pessoal)

O brasileiro Cristian Wittmann é um dos membros do Comitê Gestor da Campanha Internacional para a Abolição das Armas Nucleares (ICAN), que venceu o Prêmio Nobel da Paz em 2017 (Foto: Arquivo Pessoal)

Cristian Wittmann, Coordenador do Grupo de Práticas em Direitos Humanos e Direito Internacional da Universidade Federal do Pampa, é um dos membros do Comitê Gestor da Campanha Internacional para a Abolição das Armas Nucleares (ICAN), vencedora do Prêmio Nobel da Paz em 2017. Ele fala sobre a importância da premiação:

"Esse prêmio é algo que eu não consigo descrever. Eu só consigo entender que ele é uma grande responsabilidade, porque aumenta o teu grau de responsabilidade em agir para conseguir alcançar aquele objetivo maior que é a total eliminação dessas armas. Eu te confesso que foram poucos os momentos em que eu tive tanta euforia. Comparo com o nascimento do meu filho porque dia 6 de outubro de 2017, quando houve o anúncio, aproximadamente às 6 horas da manhã, houve um pico de muita euforia."

A cerimônia de entrega do Prêmio Nobel acontece em Estocolmo, na Suécia, e em Oslo, na Noruega, sempre no dia 10 de dezembro, data da morte de Alfred Nobel.

Reportagem de Caroline Rocha com orientação de Igor Vieira e Carolina Areal

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