05/08/19

A evolução do consumo de música portátil

O lançamento do Walkman representou uma revolução na indústria fonográfica. Na imagem, o TPS-L2, primeiro Walkman produzido pela Sony, em 1979 (Foto: Reprodução/Internet)

Seja no rádio ou na playlist do celular, a música está presente no dia a dia das pessoas. Ao longo dos séculos, invenções como o gramofone, o vinil e a fita cassete tornaram a possibilidade de curtir uma boa canção mais acessível. A maneira como se consome música passou por algumas revoluções mas, no dia 1° de julho de 1979, ela atingiu um novo patamar com o surgimento do Walkman. O produto, desenvolvido pela Sony, é considerado o primeiro aparelho portátil de música produzido em larga escala, com 385 milhões de unidades vendidas em todo o mundo, de acordo com a empresa.

Vivaldo José Breternitz é professor da Faculdade de Computação e Informática da Universidade Presbiteriana Mackenzie. Ele conta como surgiu a ideia do Walkman:

"O Walkman foi lançado pela Sony há 40 anos atrás exatamente. E um executivo da Sony disse aos seus engenheiros que pensassem em um dispositivo que permitisse a ele ouvir música em público sem incomodar quem estava em volta e que fosse um dispositivo portátil. Esse pessoal começou a pensar no assunto e eles partiram de um equipamento que a Sony já produzia, chamado Pressman. Era um gravador  portátil e a ideia é que ele fosse usado por repórteres. Então a partir dessa tecnologia, o pessoal acabou desenvolvendo um equipamento para que se pudesse se ouvir música e não apenas o que você havia gravado em uma entrevista, por exemplo. Então a ideia foi aumentar o equipamento para que ele pudesse proporcionar uma qualidade de som melhor e também que tivesse uma capacidade de armazenagem maior".

O Walkman, assim como os seus sucessores, modificou os rumos da indústria fonográfica. Com a portabilidade e a tecnologia de aparelhos como o Discman, os iPods e, hoje em dia, os smartphones e as plataformas de streaming, o acesso a novos artistas e a novas canções se tornou mais simples. A música, que era algo “de posse” em forma de discos de vinil ou em CDs, passa a ser compreendida como algo executável e acessível em qualquer momento e em alguns minutos.

O modo de ouvir música passou por algumas mudanças ao longo do tempo. Uma das principais foi a possibilidade de se ouvir uma canção de forma mais íntima, com o uso de fones de ouvidos e aparelhos portáteis (Foto: Reprodução/Internet)

O modo de ouvir música passou por algumas mudanças ao longo do tempo. A principal delas foi a possibilidade de se ouvir uma canção de forma mais íntima, com o uso de fones de ouvidos e aparelhos portáteis (Foto: Reprodução/Internet)

Gustavo Alonso é professor do Departamento de Comunicação da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Ele fala sobre os impactos causados no mercado e no consumo de música com a evolução dos dispositivos portáteis:

"A partir de 1977 com o advento da FM, com o advento do Walkman, você tem essa segmentação desse mercado cada vez maior. E você tem que fazer também um tipo de mixagem, um tipo de produção, estética, pensando nesse público. E outra coisa que a fita ajudou a fazer - a fita e o Walkman - foi tornar possível também que a gente montasse a nossa lista de canções preferidas e gravasse nas fitinhas. Você copiava a fita do disco ou de outra fita e fazia a sua fitinha. Então cada vez mais, ali nos anos 1980, se teve uma grande preocupação com os hits. Porque as pessoas não ouviam mais o disco inteiro ou tendiam a ouvir menos por causa dessa possibilidade de você misturar diversos hits. Então você tem, durante os anos 1980, vários artistas flertando com essa produção de ligação com a música popular massiva ao máximo".

As plataformas de streaming são o formato mais recente utilizado pelos ouvintes. Elas têm como característica principal um catálogo que engloba milhões de composições produzidas em todas as partes do mundo. Gustavo Alonso analisa essas plataformas e apresenta pontos positivos e negativos dessa tecnologia:

"O streaming é a pior qualidade de todos esses formatos que a gente conhece. Se você pega uma gravação em outros formatos, há uma grande tendência que essas gravações de streaming sejam mais compactadas possíveis, exatamente por esses sistemas terem mais [músicas]. Um dia desses, eu vi uma propaganda do Spotify dizendo que tinham mais de 30 milhões de músicas e eu não duvido que seja verdade. Mas isso, perceba, tem ganhos e tem perdas. Claro que você ganha a portabilidade, você ganha a possibilidade de ouvir música búlgara, música tailandesa. Então tem que ser pesado sempre. Não é só uma perda. Mas a música não é só uma questão técnica. Ela é isso também e isso precisa ser anotado. Mas ela é uma determinada forma de compartilhar cultura, então a cultura vai além dessa questão técnica".

As plataformas de streaming possibilitaram uma nova forma de ter acesso às música. Em quantidade, o catálogo dois mais serviços, Spotify e Deezer, possem 40 milhões e 53 milhões de canções, respectivamente (Foto: Reprodução/Internet)

As plataformas de streaming possibilitaram uma nova forma de ter acesso às músicas. Os catálogos dos dois serviços mais acessados, Spotify e Deezer, possem 40 milhões e 53 milhões de canções, respectivamente (Foto: Reprodução/Internet)

As plataformas de streaming modificaram também a forma de produção dos artistas. O músico independente Augusto Viana explica como isso acontece:

"Antes se resumia muito à gravadora e era aquela coisa de 'um dia eu vou ser descoberto'. Hoje em dia, no streaming, não. Você posta a sua música no Spotify, no YouTube, no Deezer e você mesmo vai atrás de fazer o marketing para que chegue até as pessoas. Você não acaba tendo que depender de outras pessoas. Você depende de si. De gravar o seu trampo, disponibilizar na Internet e fazer um marketing legal para que alcance mais pessoas".

Mas como será o futuro dessas mídias e das formas de consumo de música? O professor da Faculdade de Computação e Informática da Universidade Presbiteriana Mackenzie Vivaldo José Breternitz discorre sobre possíveis revoluções que ainda podem acontecer com esses formatos:

"Do ponto de vista tecnológico, eu acho que estamos às vésperas de uma grande revolução. A chegada da tecnologia 5G de telefonia celular vai fazer com que, muito em breve, nós possamos ter uma velocidade incomparavelmente [maior] com a que nós temos hoje, de download. Então eu creio que, com isso, até mesmo aspectos mais ligados à qualidade do som possam ser melhor explorados".

Reportagem de Pedro Silva com orientação de Carolina Areal e Igor Vieira

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