10/05/18

UFC realiza projeto de apoio a Mulheres do MAB

O documentário Arpilleras mostra como essa técnica de bordado ajuda as mulheres atingidas por barragens a superar suas perdas, ao mesmo tempo, mostrando o papel das mulheres na sociedade brasileira (Foto: Divulgação/Cartunista Vitor)

Você conhece o MAB? O Movimento dos Atingidos por Barragens é uma organização nacional que luta pelos direitos de famílias atingidas por empreendimentos de captação de água e produção de energia elétrica.

Pensando nos desafios desse grupo, o Centro de Ciências Agrárias da UFC deu início, no fim de 2016, ao projeto “Mulheres atingidas por barragens: construindo o conhecimento agroecológico em áreas rurais do semiárido nordestino”.

Segundo Marina Calisto, integrante do MAB e do projeto da UFC, as mulheres possuem demandas específicas dentro do movimento.

“Nós viemos constatando na história que as mulheres são as mais violadas no processo de construção de barragens. Existem as violações gerais, mas existe um grau de intensidade, de impacto, de violações na vida das mulheres, que é muito maior. Seja a vulnerabilidade a que são submetidas nesses espaços onde estão sendo feitas as obras, então tem canais de prostituição, de abuso sexual, seja a perda dos laços comunitários, a perda do seu modo de vida, que impactam muito as mulheres. A negação do direito à energia, do direito à água, que são coisas intimamente ligadas à atividade doméstica, então se não tem água a mulher trabalha muito mais.”

O projeto é coordenado pela professora Gema Galgani Esmeraldo e faz parte do Programa Residência Agrária. O objetivo da iniciativa é promover a capacitação de mulheres do MAB e realizar debates críticos a cerca da exploração gerada por esses empreendimentos.

A professora Gema Esmeraldo explica as ações do projeto.

“Nós desenvolvemos ações de formação, onde se discute a questão da agroecologia, pra que essas famílias, essas mulheres, possam desenvolver uma ação produtiva no entorno de sua casa, no nosso processo de projeto também temos visitas a espaços de feiras agroecológicas. E a agroecologia se alia também ao debate do feminismo, ou dos feminismos, entendendo que essas mulheres lutam não apenas por direitos, pela afirmação do seu lugar na sociedade, mas elas lutam também em coletivo. Nós temos também no projeto a construção de uma cartilha e nós temos ainda um encontro, vamos realizar o encontro agora em maio, aqui em Fortaleza.”

Uma das principais metodologias trabalhadas é a arpillera, uma técnica de bordado vinda do Chile, que foi utilizada pelas mulheres durante a ditadura do país, como forma de luta e resistência.

Para Gema Esmeraldo, essa técnica de bordado é uma das formas que as mulheres têm de expressar seus sofrimentos.

“É muito interessante na medida em que elas utilizam o bordado pra contar sua história, a história das perdas que vão viver no momento em que os grandes empreendimentos hídricos chegam na região, no território, dessas mulheres. Muitas vezes elas se utilizam dos tecidos, de uma camisa, de um símbolo, o próprio símbolo da água, o símbolo da luz, o símbolo da casa, pra retratar essa realidade da violação dos direitos.”

Um exemplo da importância do bordado na vida dessas pessoas é o documentário “Arpilleras: atingidas por barragens bordando a resistência”, que mostra as lutas enfrentadas por mulheres de diferentes regiões do país.

Marina Calisto participou do documentário e salientou a importância de iniciativas como essa para mostrar a luta dos atingidos por barragens em todo o Brasil.

“É uma ferramenta, de fato, muito interessante, o documentário, porque tem o potencial de ser uma ferramenta de trabalho popular com as pessoas. Da necessidade de organização, de como sujeitos em variados locais do país organizam suas formas de resistência, de luta, por uma nova sociedade, por uma nova forma de viver, de ter os direitos, de justiça social.”

No dia 4 de abril deste ano, “Arpilleras” recebeu o prêmio de melhor documentário, pelo “Festival Sesc Melhores Filmes” e vai ser exibido no dia 18 de maio, na Associação dos Docentes da UFC, às 4 da tarde, como parte do projeto do Programa Residência Agrária.

Matéria feita por Maryana Lopes com orientação de Carolina Areal.

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