Escrever e publicar um livro no Brasil não é tarefa fácil. Um mapeamento realizado pela E-Cêntrica, uma instituição coordenada pela Casa de Cultura Digital de Goiás, apontou que há autores independentes e pequenas editoras em todas as regiões brasileiras. Os dados foram coletados no primeiro semestre de 2017.
Os autores independentes buscam estratégias para encontrar espaço no competitivo mercado literário. Os coletivos de escritores são um espaço propício para o trabalho conjunto de escrita.
Criado em 2015, O coletivo A Literação foi uma iniciativa dos estudantes do Curso de Letras da UFC. O intuito do coletivo era agregar as pessoas que faziam literatura no curso e divulgar esse trabalho.
Um fanzine com os textos escritos pelos estudantes foi a primeira publicação do A Literação. Bárbara Costa Ribeiro é escritora e estudante da Pós-Graduação em Letras da UFC. Autora do fanzine Arara Azul publicado com o selo de publicação independente do A Literação, ela aponta a importância do projeto:
Foi uma atitude muito pioneira, porque embora muita gente já faça fanzine aqui há muito tempo, já colecione, eu acho que foi algo muito grande, conseguiu até expandir o próprio espaço que ele se propôs a ocupar que era do Curso de Letras.
Criado em 2015, O Coletivo A Literação foi uma iniciativa dos estudantes do Curso de Letras da UFC (Foto: Reprodução/O Povo)
A ideia do coletivo se expandiu e passou a aceitar textos de qualquer pessoa fora do Curso de Letras. O coletivo vinculado à Secretaria de Cultura Artística (Secult-Arte) da UFC está com as atividades paralisadas no momento e passa por uma reformulação da proposta. Bárbara reforça a importância de compartilhar a escrita dos textos e participar de um coletivo de escritores:
Me parece muito mais plural e interessante quando você se une a um coletivo porque de certo modo são várias vozes dizendo que essas coisas que elas produzem valem a pena ser lidas ou vistas, fora que facilita muito mais a circulação e o A Literação tinha uma característica muito especial que era uma coisa pensada justamente para quebrar o academicismo, a ideia acadêmica de que só pode circular o que tem qualidade literária ou legitimação de um sistema.
Outro coletivo de escritores é o Delirantes. Fruto do Ateliê de Narrativas ministrado pela escritora Socorro Acioli, o Coletivo existe desde 2017. E teve como ponto de partida as trocas literárias entre os participantes.
No fim do ano passado, eles decidiram se reunir e trocar os textos para auxiliar na construção dos contos uns dos outros. As reuniões acontecem mensalmente e os membros discutem os textos produzidos para concorrer aos editais e concursos literários. A escritora e integrante do Coletivo Delirantes, Dauana Vale, explica como acontece a troca dos textos:
A gente envia por email para os colegas lerem e fazem as observações na revisão do texto. Tem gente que tem um olhar mais para a revisão gramatical, tem escritor que tem uma visão mais para a estrutura. Tem escritora que tem uma visão mais para a linguagem. Geralmente, quatro a cinco pessoas leem o texto de cada um.
Semestralmente, o coletivo recebe cartas de intenção para a entrada de novos membros. O perfil dos participantes é diverso, onde adolescentes e pessoas de quase 80 anos participam do grupo.
Para Dauana, isso torna a experiência de estar no coletivo muito mais rica. Ela também aponta outros fatores:
O oficio de escritora é um oficio muito solitário então no meu caso eu aponto a segurança de estar escrevendo acompanhada. E tem um fator muito importante: quando a gente se une em prol de um objetivo que é em comum, isso ganha mais força, se tem mais fôlego para estar escrevendo. Eu acredito, por exemplo, concorrer a um edital em coletivo é mais forte, tem mais garra, tem mais potência, inclusive o material fica mais rico, fica mais plural.
Mais uma iniciativa é o projeto Escritoras Cearenses, de Mikaelly Andrade. Criado em 2015, a ideia surgiu de uma necessidade pessoal em conhecer e divulgar o trabalho das escritoras cearenses.
Recentemente foi lançado a Antologia de Poemas Eróticos. Os poemas foram enviados para Mikaelly Andrade que organizou o lançamento da publicação (Foto: Reprodução/Internet)
Após uma pausa, o Escritoras Cearenses volta em 2017 como guia de leitura e um selo editorial. Recentemente foi lançado a Antologia de Poemas Eróticos. Os poemas foram enviados para Mikaelly Andrade que organizou o lançamento da publicação.
Ela esclarece se o projeto Escritoras Cearenses pode ser entendido como coletivo:
É um coletivo e ao mesmo tempo não é porque somente essa Antologia foi feita de forma coletiva. Eu organizei e as autoras me mandaram uns poemas. O projeto segue como um guia de leitura através do perfil do Instagram e como um selo editorial. A gente recebe textos para poder produzir e-books digitais e futuramente livros físicos.
Os coletivos de escritores são múltiplos e plurais. Eles possuem a sua lógica interna de funcionamento. Ainda assim, eles se mostram uma boa opção para quem escreve e tem interesse em lapidar sua produção literária.
Reportagem de Karoline Sousa com orientação de Natália Maia
