18/09/17

Empreendedorismo jovem no mundo da moda

Desfile da marca Ser Expedita no Dragão Fashion Brasil 2017 (Foto: Reprodução/Tumblr)

Empreender pode ser uma tarefa desafiadora, sejam por aspectos econômicos ou até mesmo por inexperiência. Contudo, os números seguem em constante crescimento. Segundo dados divulgados pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE), em 2016, jovens de 18 a 24 anos já representam cerca de 20% do número de empreendedores no Brasil. O número só perde para a faixa etária posterior que vai dos 25 aos 34 anos e que representa quase 23%.

Segundo Hendrick Lezeck, professor do Curso de Design de Moda da Universidade Federal do Ceará (UFC), fatores como a crise econômica e a insatisfação com o mercado podem ser determinantes para que esses jovens busquem essa saída. "Por natureza, os cursos de moda têm essa tendência ao empreendedorismo", afirma o professor que também reforça a importância de se buscar um diferencial competitivo dentro do mercado. Nessa perspectiva, os jovens Marcelo Lima, da corseteria Ferrer Corsets, Camila Motta, da loja Seu Menino e Renata Príscila, da Ser Expedita, são exemplos desse empreendedorismo jovem no mundo da moda.

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Prestes a completar um ano, a Seu Menino vai crescendo junto com Fernando, filho de Camila Motta (Foto: Reprodução/Facebook)

Iniciativas empreendedoras

Ser jovem nunca representou um desafio a Camila Motta. Mamãe de primeira viagem, ela encontrou no crescimento do pequeno Fernando, uma forma de adentrar no mercado e também de atender uma demanda enquanto mãe e consumidora, de encontrar roupas diferentes e confortáveis para o filho. No caso de Camila, o empreendimento pessoal tem possibilitado acompanhar o crescimento de Fernando e conciliar melhor o tempo com a família, contudo essa é uma atividade que demanda maior dedicação. "Ter o próprio negócio leva tempo e muito trabalho, inclusive nos fins de semana e de madrugada", explica. Além de Camila, Marcelo Lima da corseteria Ferrer Corsets destaca aspectos importantes de ser um jovem empreendedor, como o aprendizado. "A Ferrer, ao mesmo tempo que tem sido uma empresa, tem sido uma escola, porque nós vamos aprendendo com os erros e as tentativas", ressalta.

Marcelo Lima começou bem cedo. Ainda na escola, ele já se dedicava de forma autodidata à moda e aos corsets. No intervalo entre o fim dos estudos e a entrada na faculdade de moda, ele venceu o Concurso de Jovens Talentos do Festival da Moda de Fortaleza (FMF), em 2008. Com o dinheiro da premiação, Marcelo comprou seus primeiros maquinários e investiu em seu empreendimento.

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Em 2011, Marcelo chegou às semifinais do concurso Estilista Revelação do programa TV Xuxa (Foto: Arquivo Pessoal)

Peças de vestuário que remontam a quase dois séculos de história, os corsets se diferenciam de outras cintas modeladoras e corselets por modelarem a silhueta de forma definitiva através do tight lacing (ajuste progressivo da peça, a fim de reduzir a medida da cintura durante o uso). As peças tem produção artesanal, acompanhadas pelo próprio Marcelo, que teve seu trabalho reconhecido por grandes profissionais da área, como Mr. Pearl, famoso corsetier que já confeccionou peças para Madonna.

Como refletem os trabalhos de Camila e Marcelo, ser um jovem empreendedor demanda empenho, dedicação e tempo. No caso de Renata Príscila, proprietária da marca Ser Expedita, a rotina é divida com um emprego formal. Ela dedica os fins de semana a marca, e conta com a ajuda do namorado, que é designer gráfico.

Feminina, autoral e nordestina. Com essa proposta, a Ser Expedita nasce para valorizar a cultura nordestina e sua simplicidade, além de criar algo novo, um "life style nordestino". "O nome da marca é uma homenagem à Expedita, a filha de Lampião", explica Renata. Para a estilista, investir no empreendedorismo é um desafio diário, inclusive pelo próprio custo de confecção das roupas que, por serem produzidas em menor escala, implicam em um custo mais elevado de produção. Atualmente, a jovem investe no e-commerce e participa de feiras voltadas à moda autoral, como o Babado Coletivo*.

Todo o trabalho de criação, desenho e modelagem da Ser Expedita são feitos por Renata Príscila (Foto: Reprodução/Facebook)

Todo o trabalho de criação, desenho e modelagem da Ser Expedita são feitos por Renata Príscila (Foto: Reprodução/Facebook)

Formação Empreendedora

O retorno financeiro é um aspecto importante dentro desses empreendimentos pessoais. Nessa perspectiva, Camila Motta e Renata Príscila concordam ao dizer que este retorno costuma vir a longo prazo, entre dois e três anos. Além disso, preparo e formação também são características fundamentais para o sucesso desses negócios, questões que esses jovens relatam necessitar ainda de melhorias dentro da faculdade.

O professor Hendrick Lezeck assume que a academia ainda deixa a desejar nesse tipo de formação empreendedora, contudo, pontua que esta é uma perspectiva que vem sendo reconhecida e buscada pelo curso de Moda. Ele também acentua que gerir o próprio negócio implica uma série de fatores. "Empreender gera uma série de compromissos e obrigações, dentre eles, fazer muitas coisas que a gente não gosta de fazer. E a gente tem que estar preparado pra isso." conclui.

Assim como relatado pelo professor, Renata Príscila, da Ser Expedita, também concorda com essa complexidade de fatores e dificuldades em gerir o próprio negócio. "Na prática, é diferente do que a gente vê na faculdade". Marcelo Lima acrescenta que é importante a existência de programas que incentivem novas ideias, inclusive com apoio financeiro, principalmente para jovens que pensam em começar o próprio negócio do zero.

 

* Idealizada por um dos criadores da marca Ahazando, Hadji Aires, a feira é voltada à moda autoral, sendo promovida trimestralmente em praças e demais espaços da capital cearense. A próxima edição do Babado Coletivo acontece no Centro Cultural Dragão do Mar, nos dias 28, 29 e 30 de setembro com entrada gratuita.

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