14/05/18

Comunicação Não-Violenta e o poder da empatia

O consultor internacional Dominic Barter chega à Fortaleza, no dia 15 de maio, para uma palestra sobre Comunicação Não-Violenta (Foto: Reprodução/Internet)

Quantas discussões e brigas poderíamos evitar se estivéssemos dispostos a realmente escutar o outro? Essa é a proposta da Comunicação Não-Violenta, elaborada pelo psicólogo americano Marshall Rosenberg, que diz que a chave para a resolução de conflitos está em uma comunicação mais empática.

Viajando pelo Brasil com o objetivo de disseminar essa cultura, Domic Barter, Consultor Internacional em Comunicação Não-Violenta em Práticas Restaurativas, afirma que essa comunicação funciona como “uma intervenção dentro de qualquer situação que não serve à vida, que reprime ou deixa estagnado o fluxo de relações”. Domic Barter chega à Fortaleza, no dia 15 de maio, para realizar um seminário sobre Comunicação Não-Violenta. O evento tem início às 19h, na Escola Vila, com entrada gratuita.

Leia abaixo os principais trechos da entrevista:

RUFM: O que é a Comunicação Não-Violenta?

Dominic Barter: Comunicação Não-Violenta é uma maneira de usar nosso poder, nossa influência para criar um mundo que tem um lugar para todos. Ela ajuda a gente a entender como utilizar esse poder, na forma de construir acordos com os outros, através de ações e da forma que a gente se relaciona com os outros. Então, a linguagem se torna uma porta de entrada para a gente entender se fazemos as coisas para manter as estruturas que excluem, que separam e que oprimem, ou em prol de coisas que nutrem e cuidam da vida.

RUFM: Como a Comunicação Não-Violenta funciona?

Dominic Barter: Ela tem 3 diferentes dimensões em que age. Dentro de nós, a maneira que a gente se comunica com nós mesmos. Nas relações, na maneira que a gente se comunica com o outro e, por fim, socialmente ou sistemicamente, na maneira que a gente participa de sistemas sociais ou até quando cria novos sistemas. Nas três dimensões, nós estamos procurando uma única ação que cuida dos três. Todo mundo está muito acostumado com pessoas que meditam para fugir do mundo, porque o mundo está muito caótico, está muito horrível, está muito violento, isso não seria uma ação Não-Violenta. Ou também pessoas que se mergulham tanto nas relações interpessoais, no casamento, no namoro, que não querem mais olhar pra si e nem para o mundo em volta, isso também não seria uma ação Não-Violenta, mesmo que temporariamente seja muito gostoso. Igualmente a gente conhece pessoas que vão para rua lutar por mudanças sociais, mas que não são congruentes com os seus discursos, não tratam o outro como tratam a si mesmos. A Comunicação Não-Violenta está procurando uma ação só, que toque nessas três dimensões. Ela funciona como uma intervenção dentro de qualquer situação que não serve à vida, que reprime ou deixa estagnado o fluxo das relações. Ela procura questionar até que ponto aquilo está servindo e ajudar as pessoas envolvidas a desenvolver estratégias que cada vez mais cuidam dessas três dimensões.

Dominic Barter é cientista político e está em circulação pelo Brasil explicando a Comunicação Não-Violenta. Depois de Fortaleza, Dominic vai passar por Natal, Recife, Salvador e Rio de Janeiro (Foto: Reprodução/Internet)

RUFM: Como ela pode melhorar a vida das pessoas?

Dominic Barter: A Comunicação Não-Violenta é interessante no sentido de que ela não é uma técnica, uma metodologia. Ela não faz recomendações específicas sobre como agir, não responde perguntas com “Ah, diga isso e vai dar certo. Fale assim e outra pessoa vai te entender”. Ela reconhece que comunicação é uma coisa que a gente constrói junto com outra pessoa a cada momento. Ela nos oferece uma lembrança de princípios dinâmicos bem óbvios, que a gente já conhecia, mas não praticava, ou ela sugere coisas que estão igualmente óbvias e muitos de nós temos esquecido. Como, por exemplo, o fato de que não tem um jeito certo de agir que garante que o outro vai me entender, porque comunicação é um acordo de entendimento e não algo que uma pessoa pode fazer sozinha. Ela não ajuda com técnicas e jeitos, ajuda com princípios que despertam nossa própria criatividade para responder às situações que são unicamente nossas. Então, você pode dizer que Comunicação Não-Violenta nada mais é do que falar a verdade e escutar o outro com compaixão.

RUFM: A gente vê muito nas redes sociais muitas pessoas falando, mas poucas interessadas em ouvir. De que forma isso é prejudicial?

Dominic Barter: Pessoalmente, eu vejo a existência dessas plataformas que permitem que pessoas debatam à distância, em tempo real, como uma invenção incrível, com muita potencialidade positiva. Mas há um limite do quanto eu posso debater. Em algum momento, eu preciso também dialogar. Então, o que essas mídias sociais estão fazendo é ter muita fala e muito pouco escuta. E comunicação é feita, obviamente, dos dois. Então, se você tem muita fala e pouca escuta, você tem um desequilíbrio muito grande. Quando eu ligo a televisão, eu tenho um problema parecido porque eu estou ouvindo, mas não estou sendo ouvido. Quando eu faço isso nas redes sociais, essa dinâmica não mudou. Mudou só quem pode falar, mas não aumentou o grau de escuta. Isso é um desafio tecnológico, mas também é um desafio de paradigma. A Comunicação Não-Violenta faz parte dessa busca por meios que promovem o entendimento, não somente a expressão.

Reportagem de Fabrício Girão com orientação de Carolina Areal.

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