11/12/17

Relação entre literatura e revolução

Uma das revoluções em destaque neste ano de 2017 é a Revolução Russa que completou cem anos desde seu início (Foto: Reprodução/Internet)

As manifestações culturais sempre acompanharam os diversos processos de revolução no mundo. E com as construções literárias não foi diferente. Yuri Brunello é professor do Programa de Pós-graduação em Letras da Universidade Federal do Ceará (UFC). Ele explica que essa característica é algo inerente às produções da literatura:

“A literatura quando apresenta uma proposta estética também contribui para reformular as categorias, as coordenadas epistemológicas do pensamento, não só do meu ou de um indivíduo isolado, mas o modo de pensar de um conjunto de pessoas, então a forma literária não é simplesmente algo que trás beleza, mas é algo que molda discursivamente um pensamento e uma prática.”

O professor José Leite do Departamento de Literatura da UFC acrescenta que a literatura tem a possibilidade de estar presente e ativa de forma integral nos processos de revolução:

“Ela pode prever os acontecimentos, muitas vezes ela intui sobre mudanças, inclusive mudanças radicais da sociedade, como ela dá conta também do próprio processo revolucionário, inclusive avalia. Ela pode participar efetivamente do calor do momento da revolução, participa da construção de todo o imaginário, que ela vai fazer uma leitura desse imaginário, como também até depois mesmo. Às vezes, tendo uma atitude até reacionária ela pode avaliar um processo revolucionário. Então, por tanto é uma tradução do momento histórico, uma vez que ela expressa muito dessa consciência coletiva e também do inconsciente.”

Uma das revoluções em destaque neste ano de 2017 é a Revolução Russa que completou cem anos desde seu início. O período de conflitos marcou a queda de um governo provisório e a ascensão do Partido Bolchevique com ideais socialistas na Rússia. Por conta da representatividade do acontecimento e do centenário, a Pós-graduação em Letras da UFC realizou, entre os dias 27 e 30 de novembro, o Colóquio Internacional sobre Literatura e Revolução no Centro de Humanidades da instituição, no bairro Benfica, em Fortaleza.

O professor Yuri Brunello foi o coordenador do evento e explica como o colóquio buscou tratar sobre o assunto de forma plural:

“Várias instituições e vários pesquisadores não só de lugares diferentes do Brasil, mas de épocas diferentes que puderam trocar ideias, sugestões, análises, porque esse é um evento acadêmico então eu também queria ressaltar que foi um momento de análise, não foi simplesmente uma celebração da ou das revoluções, mas foi também, essa é a parte que como acadêmico me interessa, foi um momento de aprofundamento e de análise.”

O professor Yuri Brunello (UFC) coordenou o Colóquio Internacional sobre Literatura e Revolução (Foto: Tatiana Fortes/O Povo)

O professor Yuri Brunello (UFC) coordenou o Colóquio Internacional sobre Literatura e Revolução (Foto: Tatiana Fortes/O Povo)

O evento foi realizado em parceria com o Programa de Pós-Graduação em História da UFC e com a Universidade Estadual Vale do Acaraú. O colóquio recebeu pesquisadores não apenas do Brasil, como de universidades de Gênova e Milão, na Itália.

O professor José Leite também é colaborador do curso de Esperanto da UFC e participou de uma mesa redonda no terceiro dia do evento na qual levou uma discussão sobre o esperanto dentro da Revolução Russa. José Leite destaca o poder de registro dessa arte e apresenta um forte exemplo sobre a presença da literatura no período de revolução na Rússia:

“Um dos exemplos da prosa é o texto ‘Metropoliteno’. Metropoliteno em Esperanto é exatamente metropolitano, o metrô. E fala da construção do metrô de Moscou e houve uma consulta técnica de engenheiros do metrô de Berlim, então a personagem, que é da área da engenharia, vai a Berlim ver todo aquele movimento de tensão em que o Nazismo estava ascendente na Alemanha e vários movimentos de esquerda então ele testemunha isso, é um pano de fundo. É um contexto essa possibilidade de revolução na Alemanha e os problemas também da Revolução Soviética. Inclusive ele detecta já essa luta de Trotsky e Stalin no próprio texto do romance.”

E dessa forma, a literatura fortalece sua função social ao longo dos anos. Como afirma Yuri Brunello:

“Então a grande importância da literatura no conjunto da Revolução de Outubro e ainda hoje foi não somente fazer isso, ou seja, através da palavra, através da forma literária reorganizar o nosso modo de olhar pro mundo, mas teve a grande importância de refletir também acerca disso.”

Para isso, discussões como as apresentadas no colóquio permitem que haja reflexão e fortalecimento da literatura como ferramenta de construção e registro das diversas formas de revolução.

Tags:, , , , , , , ,

Deixe uma resposta

*