22/10/18

Poesia que transforma

Desde o dia 31 de outubro de 2015 é comemorado no Brasil o Dia Nacional da Poesia, a data foi criada em homenagem ao poeta Carlos Drummond de Andrade, um dos principais nomes da segunda geração do modernismo brasileiro (Foto: Reprodução/Internet)

Minha terra tem palmeiras, onde canta o Sabiá; As aves, que aqui gorjeiam, não gorjeiam como lá. Os versos do poeta maranhense Gonçalves Dias compõem a Canção do Exílio e é um dos poemas brasileiros mais conhecidos.  A poesia é a arte de escrever versos, sejam eles livres ou providos de rima. Mais do que associações harmoniosas de palavras, ritmos e imagens a poesia é uma representação que possui um rigor técnico e estilístico em sua composição. Ainda assim, ser um poeta vai além disso e tem relação com uma leitura de mundo ampla e particular.

O poeta cearense Patativa do Assaré, por exemplo, não possuía uma extensa formação e era cego do olho direito. Isso não o impediu de recitar versos com muita naturalidade e que hoje fazem parte da cultura cearense e brasileira. Desde o dia 31 de outubro de 2015 é comemorado no Brasil o Dia Nacional da Poesia, a data foi criada em homenagem ao poeta Carlos Drummond de Andrade, um dos principais nomes da segunda geração do modernismo brasileiro.

Já o Dia do Poeta é celebrado anualmente em 20 de outubro. A data foi escolhida porque no dia 20 de outubro de 1976, em São Paulo, surgia o Movimento Poético Nacional, na casa do jornalista, romancista, advogado e pintor brasileiro Paulo Menotti Del Picchia. Antigamente, a poesia era cantada e acompanhada pela lira, um instrumento musical típico da Grécia. Por isso, a poesia é classificada como pertencente ao gênero lírico da literatura.

Entretanto, existe uma diferença entre o poema e a poesia. O poema é um gênero textual com uma estrutura que pode ter versos e estrofes. A poesia é a própria forma de arte, e pode estar presente em pinturas, fotografias, músicas e textos. O Dia Nacional da Poesia homenageia aos poetas e importância cultural que a arte poética representa.

Vitória Régia publicou o primeiro livro de poesias “Partida de não dizeres”, em 2015 pela editora Substansia, já a segunda publicação lançada em 2017 foi “Náutico”, com o selo da editora Patuá (Foto: Jamille Queiroz)

Vitória Régia publicou o primeiro livro de poesias Partida de não dizeres, em 2015, pela editora Substansia. Já a segunda publicação lançada em 2017 foi Náutico, com o selo da editora Patuá (Foto: Jamille Queiroz)

Produção e Mercado Editoral

O mercado literário no Ceará é apontado como um espaço difícil entre os escritores. A escritora Vitória Régia publicou o primeiro livro de poesias Partida de não dizeres, em 2015, pela editora Substansia, Já a segunda publicação lançada em 2017 foi Náutico, com o selo da editora Patuá. “O primeiro livro, escrevi em um mês e levou de dois a três meses para a publicação, o Náutico foi escrito num tempo maior porque eu me preocupo com o visual do livro também, os dois devem dialogar”, conta.

Ler e escrever sempre fez parte da vida de Vitória Régia, mas foi aos 12 anos que começou a escrever os primeiros versos de poesia. “Comecei a procurar livros de poemas, a linguagem me impressionou muito, a riqueza de metáforas, e isso me incentivou a escrever tudo que eu sentia lendo poesia”, conta.

Talles Azigon é poeta, produtor cultural e co-fundador da editora Substansia. A editora foi uma iniciativa dos alunos do Curso de Letras da UFC e já publicou mais de 35 autores. “A qualidade editorial de Fortaleza era muito ruim e as editoras que existiam com uma qualidade editorial boa eram bem inacessíveis para estudantes, pobres e quem não tinha uma condição tão grande pra poder publicar um livro”, explica Talles.

O escritor Mailson Furtado recebeu uma indicação na categoria Poesia do 60º Prêmio Jabuti de Literatura com a publicação “À cidade”, uma produção independente lançada em 2017 (Foto: Acervo Pessoal)

O escritor Mailson Furtado recebeu uma indicação na categoria Poesia do 60º Prêmio Jabuti de Literatura com a publicação À cidade, uma produção independente lançada em 2017 (Foto: Acervo Pessoal)

O escritor Mailson Furtado recebeu uma indicação na categoria Poesia do 60º Prêmio Jabuti de Literatura com a publicação À cidade, uma produção independente lançada em 2017.  “A indicação abre uma janela de visualização para que esses autores sejam mais vistos e possibilita uma visão para essa forma de publicação”, relata. O quarto livro teve um processo de concepção diferente dos outros, é um volume de 60 páginas em um único poema. “O livro retrata a vida das cidades sertanejas, mas traz uma pontuação específica do nosso estado, ele fala do Ceará e fiquei feliz e surpreso com a indicação”, conta.

Mailson Furtado começou a escrever aos 15 anos quando tentava compor letras de músicas. “Eu não tocava nenhum instrumento, comecei a ouvir a música que ouço até hoje e a minha meta era escrever letras de músicas, fui lendo mais e me aperfeiçoando”, relembra.

Locais de Encontro

O escritor Talles Azigon escreve poesias desde os 16 anos, mas foi no Templo da Poesia, espaço cultural que ficava no centro da cidade, que se envolveu com a organização de saraus.  “O sarau é um espaço muito libertário onde você tem acesso ao pensamento de muitos escritores e quem está escrevendo não precisa ter publicado por uma editora”.

A origem da palavra sarau deriva do latim seranus /serum, termos que fazem referência ao “entardecer”. Por essa razão, os saraus eram realizados durante o fim da tarde ou noite e eram comuns durante o século XIX, principalmente entre grupos de aristocratas e burgueses. “É um formato que foi subvertido porque o sarau inicialmente é uma manifestação que veio da França, dos salões onde as pessoas iam recitar o piano, e foi subvertido, principalmente pelas pessoas que realizam hoje o sarau em praças, em lugares públicos da cidade”, explica Talles.

O escritor Talles Azigon escreve poesias desde os 16 anos, mas foi no Templo da Poesia, espaço cultural que ficava no centro da cidade que se envolveu com a organização de saraus (Foto: Camila de Almeida)

O escritor Talles Azigon escreve poesias desde os 16 anos, mas foi no Templo da Poesia, espaço cultural que ficava no centro da cidade que se envolveu com a organização de saraus (Foto: Camila de Almeida)

Versos além do tempo

Há divergência sobre como a poesia é consumida nos dias atuais, Vitória Régia acredita que a situação se modifica frequentemente. “Essa questão do gênero é cíclica, tem épocas que um gênero é lido mais, é publicado mais do que outros. A poesia sempre foi um gênero colocado num pedestal, tanto no acesso dos leitores quanto em questões de publicação, gente que escreve confessa que não lê poesia, existe um distanciamento, mas isso tem mudado”, reforça.

Para o produtor cultural Talles Azigon, a poesia pode estar na internet, na música e o seu poder é maior por causa disso. “A poesia tem em si um elemento de subversão, você não precisa de muito material para você ser poeta, você precisa saber ler, não necessariamente a palavra, mas sim ter uma leitura de mundo e criar a partir disso. Patativa do Assaré é um exemplo, ele tinha uma vida não muito fácil, o próprio Mano Brown dos Racionais é um poeta nas músicas que compõe”, explica.

Reportagem de Karoline Sousa com orientação de Carolina Areal

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