06/06/18

Os desafios do ensino religioso no Brasil

O STF estabeleceu que o ensino religioso em escolas públicas pode seguir os ensinamentos de uma religião específica (Foto: Tony Gentile / Reuters)

A aplicação do ensino religioso nas escolas brasileiras tem gerado bastante polêmica nos últimos meses. Segundo a Base Nacional Comum Curricular, aprovada em dezembro de 2017, esse ensino deve ser oferecido nas instituições, sejam elas públicas ou privadas. E entre as competências para a realização dessa disciplina estão a convivência com a diversidade de identidades, crenças, pensamentos, convicções, modos de ser e viver.

Mas apesar disso, em setembro de 2017, o Supremo Tribunal Federal (STF) estabeleceu que o ensino religioso em escolas públicas pode ter caráter confessional. Isso significa que as aulas podem seguir os ensinamentos de uma religião específica.

Ercília Braga é professora da Faculdade de Educação da Universidade Federal do Ceará com pós-doutorado em Ciências da Religião. Ela afirma que essa decisão é um retrocesso em relação ao respeito à pluralidade de religiões do país, mas que o impacto dessa decisão foi mínimo, tendo em vista que essa é uma prática comum nas instituições de ensino do Brasil:

“O professor de primeiro ao quinto ano, é o pedagogo, que no curso de pedagogia não há essa preparação para o ensino religioso, não é função do curso de pedagogia. E nas séries de sexta à oitava série, normalmente os sistemas pegam professores de história, geografia e, pasmem, até de física, química e matemática. Quando o professor não tem uma preparação para lidar pedagogicamente com o conhecimento religioso, o que ele faz? Ou ele dá a religião dele, caso tenha, ou ele vai trabalhar valores humanos."

Por conta disso, algumas religiões são deixadas de lado e muitas até mesmo evitadas em sala de aula. Em maio de 2018 uma professora de história do ensino público de Juazeiro do Norte, no interior do Ceará, denunciou à mídia que havia sido afastada após dar aula sobre patrimônio material, imaterial e natural de matriz africana. Essa denúncia levantou o debate em relação ao racismo religioso na educação.

Josem de Lima é professor de artes em uma escola municipal no bairro Monte Castelo, em Fortaleza, e é da religião Candomblé. Ele procura abordar em suas aulas, as questões culturais em relação às religiões, inclusive as de matrizes africanas. Mas aponta que o preconceito é muito frequente, vindo desde os alunos às instituições de ensino:

“Por mais que tenha na lei a reprodução da história e cultura africana no currículo escolar, ainda se tem muita resistência, muita. Então por minha parte, como eu sou do Candomblé sofri muito preconceito por isso porque eles pensam que eu estou inventando, que eu estou criando, que eu estou fazendo um novo currículo. Só que na verdade tem no livro didático e quando os pais vêm reclamar, querer que os meninos não assistam minhas aulas de arte, eu mosto o livro didático."

A professora Ercília Braga reforça como esse trabalho deve ser realizado de forma eficaz:

“Discutir o conhecimento religioso, o que a humanidade já produziu no sentido de que as pessoas aprendam a lidar com o outro, com a austeridade. Se enriquecendo, caso consigam se abrir a esse ponto, mas no mínimo respeitando o outro."

E além disso, segundo a professora, é importante que esse trabalho seja articulado com qualidade e em constante contato com os diferentes movimentos religiosos.

Reportagem de Lucas D’paula com orientação de Carolina Areal.

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