22/11/17

Nova geração do audiovisual no Ceará

Set do filme Guerra da Tapioca (2017), produção cearense dirigida por Luciana Vieira e Wislan Emeraldo que será exibida na TV este dezembro (Foto: Jaime Luiz Vieira)

Muitas das experiências que temos com cinema e televisão giram ao redor de enormes produções, sejam filmes hollywoodianos repletos de efeitos especiais ou novelas nacionais com atores famosos. Mas uma nova geração de artistas cearenses está tentando mudar essa realidade, encontrando seu espaço no cenário do audiovisual.

Um desses artistas é Samuel Brasileiro, graduado em Cinema e Audiovisual pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Samuel afirma que sempre quis trabalhar com artes e fazer algo criativo. "Eu gostava de desenhar, mas não era tão bom assim, e nos tempos de colégio percebi que no cinema também dava pra construir imagens. Aí comecei a estudar cinema, ver filmes mais ‘fora da caixa’, e decidi que era isso mesmo o que eu queria fazer”, conta o realizador audiovisual.

Durante a graduação, e depois dela, o diretor e roteirista realizou muitos projetos cinematográficos, passando por formatos diferentes, sempre com a colaboração de outros artistas cearenses. “Eu fiz, com o [realizador] Leonardo Mouramateus, o [curta-metragem] Lição de Esqui (2013), que ganhou prêmios no Festival de Brasília e no de Recife. Fiz meu primeiro longa, O Animal Sonhado (2015), com mais cinco diretores cearenses e este ano realizei, junto à minha produtora Praia à Noite, uma nova série, Lana & Carol, que vai ser exibida na TV Brasil”.

Samuel Brasileiro no set de _______ (Foto: Samuel Carvalho)

Samuel Brasileiro no set da série de TV Os Herdeiros, em fase de produção (Foto: Samuel Carvalho)

Diversidade de vozes

Samuel aponta que a situação do audiovisual cearense de modo algum se limita apenas a seus colaboradores imediatos. “Eu sou curador do Cine Caolho [cineclube dedicado às produções audiovisuais cearenses], e é impressionante a quantidade de trabalhos que eu recebo por lá. Graças ao maior número de escolas de formação, à descentralização de verba dos editais, há uma grande expansão do que está sendo feito por aqui”.

Levi Magalhães no estúdio de sua recente produção Blawrh (Foto: Hamille Bezerra)

Levi Magalhães no estúdio de sua recente produção, Blawrh - Navegando no Deserto (Foto: Hamille Bezerra)

Um dos exemplos dessa expansão do que está sendo feito é o trabalho de Levi Magalhães, animador piauiense também graduado em Cinema e Audiovisual pela UFC. Levi explica que no Brasil existem apenas dois cursos de graduação em animação, um em Minas Gerais e outro em

Pelotas, no Rio Grande do Sul. “Eu prestei vestibular para a UFMG e não fui aprovado, mas sabia que na UFC, além das disciplinas em animação do curso, havia um núcleo em animação na Casa Amarela [Casa Amarela Eusélio Oliveira] que poderia suprir essa dificuldade. Foi por isso que eu vim para cá”.

O animador destaca a importância das políticas públicas para as possibilidades que estão surgindo no cinema local. “De 2015 pra 2016, a gente fez a websérie Blawrh, e aí surgiu um edital pra realizar um filme. Nós adaptamos a Blawrh para filme e ganhamos o edital, e começamos a produção no começo do ano. Toda a equipe está sendo remunerada, os cenários estão mais elaborados. É uma vitória pra gente. É esse tipo de coisa que me deixa confiante que eu vou poder viver disso”, afirma Levi.

Avanços esperados

Luciana Vieira está trabalhando, atualmente, na finalização do telefilme Guerra da Tapioca (Foto: Jaime Luiz Vieira)

Luciana Vieira está trabalhando, atualmente, na finalização do telefilme Guerra da Tapioca (Foto: Jaime Luiz Vieira)

Mas, apesar do espaço que a produção cearense está ganhando, ainda há muitos avanços a serem feitos. Luciana Vieira, realizadora também graduada no curso de Cinema e Audiovisual da UFC, destaca que as importantes oportunidades profissionais que teve, como um cargo na pré-produção do filme Praia do Futuro [Karim Aïnouz, 2014] e a direção d’O Animal Sonhado junto com outros diretores cearenses, não são oportunidades igualmente distribuídas. "Existem muitas mulheres trabalhando com o audiovisual, mas existem muito mais homens nos espaços criativos, como a direção e a direção de fotografia. Isso vem mudando com o tempo, as mulheres estão se protegendo mais e ganhando mais espaço, mas ainda existe muito a ser feito", explica a realizadora.

Não é só nessa frente que o campo do audiovisual ainda precisa avançar. Luciana, ao reconhecer a mesma situação de importância do poder público que os outros criadores apontam, reforça o aspecto incerto inerente a essa realidade. A realizadora aponta que a lei 12.485/2011, também conhecida como Lei da TV Paga, foi responsável por um fortalecimento do audiovisual ao requisitar a exibição de conteúdo brasileiro de produção independente. "Isso levou a mais editais, mais oportunidades pra criadores independentes e pequenas produtoras, e permitiu que esses criadores mostrassem sua capacidade, mas essa situação pode mudar a qualquer momento com uma alteração nas políticas públicas. O mercado está muito a mercê disso.” E é nesse estado incerto, porém confiante, que avança uma nova geração de criadores cearenses.

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