03/07/19

Feats musicais bateram recorde em 2018

Colaborações como o recente lançamento AmarElo, de Emicida, Majur e Pablo Vittar, são conhecidos como feats na indústria musical (Foto: Divulgação)

Em 2018, as colaborações musicais bateram recorde. Só entre janeiro e julho do ano passado, 32 músicas desse tipo estavam entre as mais tocadas no top 100. O levantamento foi feito pelo portal de notícias G1 e compara os números desde o ano 2000. Conhecido como featuring, e para os mais íntimos feat, essa categoria de música se caracteriza pela participação de um cantor em uma música de outro artista. Ou seja, em um feat, é feita uma parceria musical entre artistas.

Esse é caso de recentes lançamentos como Juntos (Shalow Now), de Paula Fernandes e Luan Santana, e Amarelo, de Emicida com Majur e Pabllo Vittar. Para entender o fenômeno dos feats, Leonardo de Marchi, professor visitante da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) e especialista em mercado fonográfico, fala que  é preciso entender primeiramente a mudança no consumo de música, que vem desde os anos de 1990, com a surgimento da Internet:

"Quando surgem ou se popularizam os programas de compartilhamento de arquivos entre pares, você começa a ter uma mudança muito profunda na forma de consumir música gravada. Ensinaram aos consumidores de música que eles podiam ter acesso a todo tipo de música possível e em larga quantidade e por um preço barato. Esse é um ponto importante. O segundo ponto importante é que ele demonstra que o consumo de música gravada tem agora nas tecnologias digitais a possibilidade de compartilhamento, uma ideia de rede".

De lá pra cá, a indústria fonográfica teve que propor modelos de negócio que atendessem essas novas necessidades do mercado. As plataformas de streaming que surgiram a partir de 2010, como o Spotify e o Deezer, são alguns desses exemplos.

Em 2018, das dez músicas mais tocadas em plataformas de streaming no país, metade foram feats. Entre elas, está a parceria entre Kevinho e Simone e Simaria (Foto: Divulgação)

Em 2018, das dez músicas mais tocadas em plataformas de streaming no país, metade foram feats. Entre elas, está a parceria entre Kevinho e a dupla Simone e Simaria (Foto: Divulgação)

O professor Leonardo de Marchi afirma que é preciso entender a lógica de reprodução nessas plataformas, que são capazes de sugerir o que as pessoas podem gostar de ouvir. Segundo ele, essa foi uma estratégia que favoreceu o crescimento dos feats:

"Hoje, os artistas e gravadores olham as métricas das plataformas de streaming para poderem lançar músicas sempre  que uma determinada faixa não esteja sendo mais tão acessada pelos seus ouvintes. Você tem uma outra lógica de produção, o que tem muito a ver com a coisa das parcerias porque aí entra também uma certa forma de estratégia de inserção no mercado a partir da leitura de como funcionam os algoritmos de recomendação".

Um estudo intitulado O fenômeno 'featuring' na música afirma que a mistura de gêneros musicais que os feats proporcionam pode ter efeitos bastante positivos na música e que quanto maior a distância entre os gêneros das participações, mais chances as músicas têm de chegar às paradas de sucesso. Em 2018, por exemplo, o feat entre o funkeiro Kevinho e a dupla sertaneja Simone e Simaria na música Ta Tum Tum, ocupou o quarto lugar entre as músicas mais tocadas do Spotify.

O músico e jornalista cultural Felipe Gurgel afirma que a fusão de feats com músicos de diferentes nichos possibilitam um produto diferente do que cada cantor produz separado:

"É mais uma cabeça pensante, mais um artista diferente dividindo a assinatura daquela obra. Então existe ali uma troca, um consentimento para que a música enquanto produto final saia com a identidade daqueles dois artistas, com um pouco da verdade e da concepção estética de cada um dos artistas. Eu vejo isso de uma maneira muito positiva". 

Segundo uma pesquisa produzida pela Pró-Música Brasil, das dez músicas mais tocadas em plataformas de streaming no país, em 2018, metade foram feats. O aumento expressivo das participações demonstram um método bem sucedido para levar faixas de música aos topos de paradas. Por enquanto não se sabe, diante desse crescimento, se a popularidade do feat vai se manter, mas de qualquer forma é seguro dizer que essa nova forma de se fazer música já conquistou diferentes públicos.

Reportagem de Calianne Celedônio com orientação de Carol Areal e Igor Vieira

Tags:, , ,

Deixe uma resposta

*