15/11/17

A Excursão por um Pajeú reduzido pelo tempo

A exposição Excursão Pajeú retrata o contraste entre o riacho Pajeú e Fortaleza (Foto: Cecília Andrade)

A origem da cidade de Fortaleza está intimamente ligada ao riacho Pajeú. Em 1649, na época das invasões holandesas do Brasil, o comandante holandês Matias Beck escolheu o monte à margem do riacho para o local ideal de construção do Forte Schoonenborch. Com o passar do tempo, um povoado foi surgindo ao redor do riacho e do forte, já rebatizado de Forte de Nossa Senhora de Assunção.

Hoje, 368 anos depois, aquele povoado se transformou em Fortaleza, cidade onde moram mais de 2,6 milhões de pessoas. O Forte desmoronou em 1812, mas em seu lugar foi erguida a Fortaleza de Nossa Senhora de Assunção, que permanece em pé até hoje. O Riacho Pajeú, por sua vez, tem uma existência reduzida, relegado a canais subterrâneos e espaços abertos pequenos e mal-preservados.

É pra chamar a atenção para a história e a condição atual do Pajeú que abertura nessa quinta-feira (16) no Centro Cultural do Banco do Nordeste do Brasil (CCBNB) a exposição Excursão Pajeú, que reúne imagens e documentos do estado atual do riacho, ilustrando o seu trajeto natural por meio da cidade que cresceu ao seu redor.

O riacho Pajeú hoje corre por caminhos precários e poluídos (Foto: Divulgação)

O riacho Pajeú, antes límpido, hoje corre por caminhos precários e poluídos (Foto: Cecília Andrade)

Cecília Andrade, artista responsável pela exposição Excursão Pajeú, comenta que seu interesse pelo riacho começou no início da faculdade, “quando eu me mudei pra perto do leito histórico do Pajeú em 1997, pouco antes da maior chuva já registrada em Fortaleza. Eu vi aquele alagamento imenso, aquela correnteza de água e de lixo, e essa imagem influenciou muito o meu trabalho na faculdade e no mestrado”.

A tese de mestrado de Cecília foi a base para a exposição. Graduada em Arquitetura pela UFC e mestra em Artes pela mesma instituição, a artista fez uma pesquisa focada na relação entre corpo, espaço e tecnologia. “A ideia era caminhar pelo trajeto do Pajeú com o aplicativo de localização desenvolvido para a tese, que trazia documentos relacionados à história do riacho, e ver o efeito poético que existe nessa experiência”, explica Cecília.

A caminhada pelo trajeto do riacho auxiliada pelo aplicativo de localização complementa a exposição. Nos dias 25 de novembro, 02 e 16 de dezembro, às 10h, será realizado o passeio guiado Curto Circuito Pajeú, que terá como local de partida o CCBNB Fortaleza. Cecília chama a atividade de uma experiência de “anti-turismo”, uma caminhada pela área degradada para qual o riacho é confinado.

Cecília Andrade teve seu primeiro contato com o Pajeú em 1997, quando cursava Arquitetura na UFC (Foto: Emiliano Cavalcante)

Cecília Andrade teve seu primeiro contato com o Pajeú em 1997, quando cursava Arquitetura na UFC (Foto: Emiliano Cavalcante)

De acordo com a artista, existe possibilidade de certa reversão da situação atual do Pajeú, e revitalização de sua área. “No projeto Fortaleza 2040 (plano de desenvolvimento da cidade com elaboração coordenada pelo Instituto de Planejamento de Fortaleza), por exemplo, o riacho aparece como eixo de renovação do Centro, de atração de investimentos, de um público com um poder aquisitivo mais alto, que traga um turismo de mais qualidade. E é com esse novo imaginário que o Pajeú vai ressurgindo na atualidade.”

Mas o custo desse ressurgimento do Pajeú pode sair mais caro do que o esperado. Cecília explica que, durante o processo de identificação do trajeto do riacho para determinação da caminhada, encontrou documentos que indicam que as atuais tentativas de revitalização colocam o riacho num trajeto que não é condizente com séculos de documentação cartográfica.

“Por exemplo, projetos como o Fortaleza 2040 vêm posicionando o Pajeú de acordo com um mapa que foi produzido em 2008 colocando o riacho dentro da comunidade do Poço da Draga. E a gente não entende como isso aconteceu. Diante da documentação que a gente tem, e diante de pareceres feitos por engenheiros da própria Prefeitura, a foz do riacho Pajeú encontra-se dentro da Indústria Naval do Ceará (INACE)”. É nesse contexto que a exposição Excursão Pajeú, e a caminhada de “anti-turismo”, se torna, nas palavras da artista, um posicionamento político sobre a situação do Pajeú e da cidade.

SERVIÇO
Excursão Pajeú
Centro Cultural Banco do Nordeste do Brasil (Rua Conde d’Eu, 560)
Acesso gratuito
Mais informações no site da Excursão Pajeú

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