09/10/16

Josenildo Nascimento e Gislândia Barros – Cinema no Bom Jardim

Quando era menino, Josenildo já tinha sonho de gente grande. Ainda pequeno, queria contar histórias que mexessem com o coração do povo. Por isso desenhou quadrinhos, gravou radionovelas, entrou para o teatro do bairro e manteve vivo o desejo de produzir cinema. Na sua meninice, Gislândia aspirava ser estrela. Se encantou com Chiquititas, com as telenovelas e procurou o teatro do bairro. Como mágica, do encontro fortuito dos dois nasceu um amor desses de cinema.

Poderia ser a sinopse de um filme, mas, na verdade, é o enredo responsável por, anos depois, levar às telas do Cineteatro São Luiz o casal Josenildo Nascimento e Gislândia Barros durante a estreia da sua última produção, o filme de época Botija (2015). Atores e diretores de cinema do bairro Bom Jardim, na periferia de Fortaleza, os dois já assustaram, emocionaram e cativaram a comunidade com tramas, gravadas ali mesmo, que vão desde abuso sexual, divórcio até possessões demoníacas.

Cena do filme de época Botija

Cena do filme de época Botija

Nem sempre foi assim. A chegada à vida adulta mexeu com os planos; as obrigações, com o tempo; e os seus sonhos com a incredulidade dos moradores. "Muita gente dizia: 'vocês tão doidos', 'isso é coisa de criança, 'vocês não vão conseguir fazer não'", revela Josenildo. Não obstante, os aspirantes à sétima arte precisavam ainda superar as limitações técnicas de quem não possuía equipamentos e o primeiro assombro de fazer um filme sem formação. "Nossa ideia era ver se a gente sabia [produzir um filme]", explica.

Nas boas narrativas, além de movimentar o enredo, os obstáculos transformam as personagens e permitem que a história enverede por novas possibilidades. De um amigo, veio a câmera. Do trabalho, o cenário. Da internet, a maquiagem. Do bairro, o elenco. Gravado, de sábado para domingo, na madrugada dos mortos, o média-metragem de terror O Inferno É Aqui (2008) foi a primeira produção de Gislândia e Josenildo. O filme foi colocado na locadora da mãe - e o sucesso foi imediato.

De lá para cá, a dupla virou casal, lançou quatro produções próprias bem-sucedidas e bastante distintas entre si. O longa Apenas Detalhes (2012), inaugurou, com um drama familiar, um nova fase na história dos dois, que já rendeu frutos como o curta Jessica (2013) e o Botija. Com as obras difundidas pelo bairro e pela internet, o reconhecimento não demorou a chegar. Fundaram o empreendimento cultural Bom Jardim Produções, reunindo sua obra e oferecendo, aos jovens da região, formações na área.

Seria o final feliz de um enredo improvável, mas, no que depender do público, essa saga tem continuação: "Depois que nosso filme passou no cinema, eu achava que tinha conquistado. Mas agora que tal produzir para ocupar todas as salas de cinema do Brasil? Meu sonho é esse, não sei se vou conseguir, mas sempre digo pra ela - vamos lá".

Confira a a seguir a entrevista completa:

*Entrevista realizada nos estúdios da Rádio Universitária FM no dia 13 de setembro de 2016.


 

Assista às obras de Josenildo Nascimento e Gislândia Barros no seu canal no YouTube.

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